
Na abertura da conferência acerca do lógos, proferida no Clube de Bremen, em 4 de maio de 1951, e publicada na obra Vorträge und Aufsätze, em 1967, Heidegger indica: “Longo é o caminho mais necessário ao nosso pensamento”. Para compreendermos, em sua mais profunda e vasta perspectiva, o sentido próprio dessa indicação, não devemos interpretar o adjetivo longo (weit), que caracteriza o caminho necessário do pensamento, nem como uma extensa duração, nem como uma distância de grande extensão, como se estivesse em questão uma medida “temporal” ou “espacial”, relacionando um ponto de partida com outro de chegada.
Distinto tanto da duração como da distância, ao afirmar ser longo o caminho do pensamento, Heidegger quer indicar a dificuldade de compreendermos o que constitui, como estrutura fundamental e originária, a própria existência do homem. Antes de toda e qualquer extensão, esse caminho é longo por encaminhar ao que nos é essencial, conduzindo-nos a uma interpretação de nossa própria compreensão de ser.
Longo é o caminho necessário para o pensamento se enviar ao que lhe é mais próximo, pois o que, “[…] onticamente, é conhecido e constitui o mais próximo é, ontologicamente, o mais distante, o desconhecido, e o que constantemente se desconsidera em seu significado ontológico”.
O propósito deste livro é demonstrar como Heidegger recoloca a questão do ser a partir de uma crítica ao modo metafísico de sua compreensão, a fim de despertar o homem para o sentido fundamental do que é assim questionado.
O objetivo é mostrar como o projeto heideggeriano de “retorno ao fundamento da metafísica” – que parte da questão “o que é metafísica?” para compreender “como se essencializa a unidade originária de ser e pensar, como unidade de physis e lógos” – visa, com o esclarecimento do modo originário de a verdade se dar, a promover uma transformação da relação do homem com o mundo. Mais fundamental que qualquer determinação do fundamento, o assunto e o caminho do pensamento de Heidegger indicam a necessidade de o homem assumir o seu próprio ser-no-mundo como cura.
