Heidegger: Pensador Da Terra

Martin Heidegger (1889-1976), de origem católica, abandonou os estudos de teologia em 1911 para se dedicar às questões filosóficas.
Também abandonou a fé cristã.

Dirá muito mais tarde que se a fé o interpelasse, teria que fechar o seu “atelier” de pensador. Num dia qualquer, a seguir talvez à guerra de 1914-18, soube que morreria um dia, soube-o angustiadamente. Avaliou retrospectivamente o seu passado, soube que poderia ser diferente do que era, podia escolher mudar o seu viver e que, escolhesse o que escolhesse como vida, as outras possibilidades não seriam nunca. Uma tal experiência, muitos humanos a tinham já feito antes dele, como a literatura ocidental testemunha. Mas o filósofo que ele era concluiu dela que a diferença entre o que ele era e o que ele ia ser correspondia ao que na tradição greco-europeia se chama ser, e que a sua característica essencial era a temporalidade própria do ser humano. Que eu saiba, nunca contou esta experiência, mas ela organiza em profundidade o livro que publicou em 1927 com o título Ser e Tempo, o qual se veio a impôr como um dos maiores textos de filosofia da Europa ocidental. A problemática deste texto se veio a chamar o I Heidegger (entre 1927 e 1930, digamos).
Entre 1930 e 1945 houve uma viragem na problemática de Heidegger, a qual se deu, pois, durante o tempo em que o filósofo foi nazi, como se tem referido na imprensa nos últimos anos. Os seus textos não ficaram irremediavelmente contaminados por essa lepra de terror? A suspeita permanece, entre os que defendem e os que atacam. Este texto quereria levantá-la, não para inocentar o que não é inocente, mas para que a, porventura, mais importante filosofia do século XX se não perca para nós, que dela precisamos.
Tal importância será talvez mais fácil de perceber se se confrontar o filósofo com dois outros; um que o precedeu, Edmund Husserl; outro que o continuou com audácia e forçando a sua problemática em confronto com outras, Jacques Derrida. Paradoxalmente, um autor, que partilhou uma ideologia com forte componente antisemita que martirizou seis milhões de judeus, está envolvido entre dois pensadores de origem judaica (e ainda se poderia acrescentar, na grande proximidade com ele, um terceiro judeu, confessional
este, Emmanuel Lévinas).

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Martin Heidegger (1889-1976), de origem católica, abandonou os estudos de teologia em 1911 para se dedicar às questões filosóficas.
Também abandonou a fé cristã. Dirá muito mais tarde que se a fé o interpelasse, teria que fechar o seu “atelier” de pensador. Num dia qualquer, a seguir talvez à guerra de 1914-18, soube que morreria um dia, soube-o angustiadamente. Avaliou retrospectivamente o seu passado, soube que poderia ser diferente do que era, podia escolher mudar o seu viver e que, escolhesse o que escolhesse como vida, as outras possibilidades não seriam nunca. Uma tal experiência, muitos humanos a tinham já feito antes dele, como a literatura ocidental testemunha. Mas o filósofo que ele era concluiu dela que a diferença entre o que ele era e o que ele ia ser correspondia ao que na tradição greco-europeia se chama ser, e que a sua característica essencial era a temporalidade própria do ser humano. Que eu saiba, nunca contou esta experiência, mas ela organiza em profundidade o livro que publicou em 1927 com o título Ser e Tempo, o qual se veio a impôr como um dos maiores textos de filosofia da Europa ocidental. A problemática deste texto se veio a chamar o I Heidegger (entre 1927 e 1930, digamos).
Entre 1930 e 1945 houve uma viragem na problemática de Heidegger, a qual se deu, pois, durante o tempo em que o filósofo foi nazi, como se tem referido na imprensa nos últimos anos. Os seus textos não ficaram irremediavelmente contaminados por essa lepra de terror? A suspeita permanece, entre os que defendem e os que atacam. Este texto quereria levantá-la, não para inocentar o que não é inocente, mas para que a, porventura, mais importante filosofia do século XX se não perca para nós, que dela precisamos.
Tal importância será talvez mais fácil de perceber se se confrontar o filósofo com dois outros; um que o precedeu, Edmund Husserl; outro que o continuou com audácia e forçando a sua problemática em confronto com outras, Jacques Derrida. Paradoxalmente, um autor, que partilhou uma ideologia com forte componente antisemita que martirizou seis milhões de judeus, está envolvido entre dois pensadores de origem judaica (e ainda se poderia acrescentar, na grande proximidade com ele, um terceiro judeu, confessional
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