A Arte De Enganar A Natureza é um ótimo título para um belo e revelador trabalho sobre os inúmeros e diversos embates morais, políticos, médicos e jurídicos em torno das ideias, representações e práticas de controle da natalidade no Brasil da primeira metade do século XX.
Associando antropologia e história, conceitos e narrativas, múltiplas fontes e análise de casos, Fabíola Rohden nos oferece uma decisiva contribuição que se estende a vários campos disciplinares e temáticos: uma história da sexualidade e da reprodução no Brasil, uma história das relações de gênero e das políticas públicas voltadas para as mulheres e, também, uma página desconhecida da história da medicina brasileira.
A Arte De Enganar A Natureza tem como objetivo, em termos mais gerais, discutir como a reprodução e, mais particularmente, o controle da natalidade se convertem em questões de interesse público, sob o rótulo da relevância do problema da ‘população’ para o desenvolvimento nacional nas primeiras décadas do século XX.
Tenta mostrar que este tema não é apenas de fundamental importância para compreensão das relações de gênero ou para os modelos de família e sexualidade em voga, mas diz respeito também à ordem política e está concatenado com os principais debates que moviam os homens públicos daquele período. A reprodução, longe de ser apenas algo do domínio individual, era discutida a partir de sua relação com temas como a eugenia e o crescimento na nação, por exemplo.
Em termos mais específicos, analisa o tratamento dado à questão a partir da medicina e do sistema jurídico-policial. A escolha destes dois pontos se deve, em primeiro lugar, ao fato de que é através da medicina que a reprodução, historicamente, se transforma em tema de estudos. Particularmente, é entre o final do século XIX e o começo do século XX que surge um interesse cada vez maior pelo assunto, demonstrado pela criação e desenvolvimento de especialidades dedicadas à reprodução e à sexualidade, como é o caso da ginecologia.
Além disso, é também nesse período que a medicina passa a olhar a reprodução sob o enfoque das suas implicações mais amplas. A importância da fecundidade para o casamento, a família e a sociedade e, acima de tudo, para a nação e mesmo para a continuação da espécie passam a ser as preocupações centrais em muitos escritos e debates médicos. E é precisamente nesse ponto que medicina e justiça se encontram.
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