Fábio Vergara Cerqueira & Maria Aparecida de Oliveira Silva (Org.) – Estudos Sobre Esparta
Esparta insere-se nos Estudos Clássicos de modo um tanto monocórdico. Os textos produzidos, em geral, destacam o caráter militar de sua sociedade e o consequente rigor das suas instituições, disseminando o mito de que as instituições espartanas permaneceram inalteradas por séculos.
O caráter militar atribuído à cidade de Esparta também contribuiu para que os estudiosos a colocassem em segundo plano, especialmente nas décadas de 40 a 60, com poucos estudos entre os anos de 70 a 90, excetuando os que estavam voltados para as questões femininas, pois era usada como modelo para aqueles que a viam como exemplo de uma sociedade antiga que concedia mais liberdade à mulher.
Ainda assim, no século XXi, os estudos sobre Esparta não obtiveram o crescimento que se esperava, tendo em vista a preferência por Atenas e Roma nas décadas anteriores.
Em parte, tal crescimento não ocorreu por novas cidades terem despertado interesse maior dos estudiosos, como Tebas, Corinto, Alexandria, e até mesmo cidades do mundo colonial grego ou das regiões provincianas do Império Romano.
Porém, mesmo que com peso menor do que nos estudos de outras cidades, os estudos espartanos também vivenciaram áreas de renovação. Um bom exemplo seria a coletânea “La cultura a Sparta in età clássica”, organizada por Francesca Berlinzani e publicada em 2013 em Trento, com as contribuições de um seminário realizado em 2010 em Milão.
Estudos Sobre Esparta propõe, para além da monotonia da miragem da cidade militarista estável, 15 textos que mostram a diversidade de enfoques contemporâneos, num horizonte multidisciplinar, com recurso a fontes as mais variadas, com a contribuição de autores vinculados a diferentes disciplinas que compõem os Estudos Clássicos.
Nesta coletânea reúne-se a participação da maior parte dos pesquisadores brasileiros que se dedicou e/ou se dedica aos estudos de Esparta.
Os vários autores, provindos de diferentes países e continentes, dos Estados Unidos à Austrália, do Brasil à Rússia, incluindo Itália, Espanha, França e Portugal, na sua multiplicidade de assuntos, proporcionam uma leitura atualizada, baseada em evidências e interpretações consistentes – uma leitura esclarecedora para o estudante, para o pesquisador, mas também para o público em geral, que pode assim ter uma visão mais abrangente da historicidade espartana, encontrando subsídios para escapar aos estereótipos fáceis, mas persistentes, de uma Esparta guerreira e estável, assim idealizada desde a Antiguidade, por seus amigos e inimigos, admiradores e detratores.