A proposta da pesquisa fundamenta-se na procura daquilo que resiste e transgride a lógica da redução das possibilidades de apropriação e uso da metrópole pelos habitantes que nela vivem. A resistência e a transgressão realizada pelos milhares de habitantes expropriados (dos direitos, da vida, do trabalho, da terra) foram a princípio apreendidas como os elementos reveladores das contradições dos conteúdos da urbanização contemporânea, a partir do choque entre a reprodução ampliada do capital, que mobiliza os momentos de trabalho, de lazer e da vida privada da sociedade visando a realização plena da acumulação, e os momentos de reprodução da vida dos habitantes da metrópole, que, por sua vez, se reproduzem por meio de transgressões, como condição necessária frente a tendência à degradação da vida.
A potência de ambos os conceitos, resistência e transgressão, reside no fato destes conterem os conflitos, latentes ou não, da reprodução da sociedade em sua totalidade, as formas distintas de apreensão de elementos para esta reprodução pelas classes que a compõem, com seus jogos de estratégias e ações, que se revelam concretamente em práticas sócio-espaciais.
A tentativa da busca pelas resistências e transgressões na metrópole surgiu como a porta de entrada para compreensão das formas de dominação pelas quais a produção do espaço capitalista é regido, pois essas ações fazem parte do questionamento do processo hegemônico em curso. Muitas vezes porém, o que aparece sob a forma de transgressão e resistência ratifica a expropriação ou exploração através da cooptação dessas ações pelos sujeitos implicados na lógica da acumulação, revelando, assim, um grau de perversidade ainda maior do processo. Esta foi a realidade com a qual nos deparamos ao longo da pesquisa, e analisando uma favela que alcançou inúmeras conquistas relacionadas aos aspectos infra-estruturais, construídas a partir das histórias de lutas dos movimentos sociais existentes na metrópole, chegamos nas formas sutis de dominação do espaço efetivadas por sujeitos que realizam a lógica hegemônica através de ações assistencialistas. E, de fato, tais relações povoaram grande parte das organizações existentes na história da metrópole paulistana.
A Produção Do Lugar Na Periferia Da Metrópole Paulistana
- Ciências Sociais, Urbanismo
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