A Grande Marcha

Em inglês, é praxe a crítica se referir ao primeiro romance de um novo autor como “first attempt” — primeira tentativa. Se lembrarmos do parentesco semântico entre tentativa e ensaio, poderemos também ver A Grande Marcha de Ewerton Martins Ribeiro como um ensaio de romance

, na medida em que essa ficção renuncia a se estender pela duração de um romance, propondo-se como novela e na medida em que mescla um tom ensaístico com a narrativa de criação. Tomando ironicamente o kitsch como motivo – quase como protagonista – Ewerton estabelece uma cadeia de efeitos irônicos secundários: ironiza o tema amoroso como cerne da ficção novelística, ironiza o próprio registro épico em que se insere, ironiza o fato histórico que provoca seu discurso. O título revela-se como tópico irônico pelo contraste entre o mega-empreendimento de Mao Tse Tung, cujos frutos o líder chinês jamais poderia prever, e a comparativa pequenez – em vários sentidos – das passeatas brasileiras. Num outro nível, contrasta a intencional concisão de sua narrativa com a pompa do título.
Ensaio/novela, provocação e tentativa de trabalhar com a matéria ainda incandescente do vivido, o texto nasce do impulso de arriscar-se, sem rede de proteção, na corda bamba da vida e da escrita.

O kitsch é eterno. Não há um só povo, em qualquer tempo, que dele tenha escapado. Para muitos, no entanto, sua existência sempre foi latente. Os brasileiros, por exemplo, fomos poupados por um longo tempo de enfrentá-lo em consciência, por causa da latinidade da língua. Sempre nos faltou um termo adequado para defini-lo. E, como sabemos, o suporte da linguagem é o primeiro e imprescindível passo para qualquer tomada de consciência.
Em meados do sentimental século 19 surge a palavra alemã, que se espalha por tudo quanto é língua até nos alcançar: éramos definitivamente expulsos do paraíso da ignorância do kitsch.
Se por um lado ele é eterno, por outro prospera em conjunturas específicas, como nos períodos em que se vive um contexto social de maior acesso à opulência. Não admira ele ter se revelado em toda a sua pujança na medida da ascensão da civilização burguesa.

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Em inglês, é praxe a crítica se referir ao primeiro romance de um novo autor como “first attempt” — primeira tentativa. Se lembrarmos do parentesco semântico entre tentativa e ensaio, poderemos também ver A Grande Marcha de Ewerton Martins Ribeiro como um ensaio de romance, na medida em que essa ficção renuncia a se estender pela duração de um romance, propondo-se como novela e na medida em que mescla um tom ensaístico com a narrativa de criação. Tomando ironicamente o kitsch como motivo – quase como protagonista – Ewerton estabelece uma cadeia de efeitos irônicos secundários: ironiza o tema amoroso como cerne da ficção novelística, ironiza o próprio registro épico em que se insere, ironiza o fato histórico que provoca seu discurso. O título revela-se como tópico irônico pelo contraste entre o mega-empreendimento de Mao Tse Tung, cujos frutos o líder chinês jamais poderia prever, e a comparativa pequenez – em vários sentidos – das passeatas brasileiras. Num outro nível, contrasta a intencional concisão de sua narrativa com a pompa do título.
Ensaio/novela, provocação e tentativa de trabalhar com a matéria ainda incandescente do vivido, o texto nasce do impulso de arriscar-se, sem rede de proteção, na corda bamba da vida e da escrita.

O kitsch é eterno. Não há um só povo, em qualquer tempo, que dele tenha escapado. Para muitos, no entanto, sua existência sempre foi latente. Os brasileiros, por exemplo, fomos poupados por um longo tempo de enfrentá-lo em consciência, por causa da latinidade da língua. Sempre nos faltou um termo adequado para defini-lo. E, como sabemos, o suporte da linguagem é o primeiro e imprescindível passo para qualquer tomada de consciência.
Em meados do sentimental século 19 surge a palavra alemã, que se espalha por tudo quanto é língua até nos alcançar: éramos definitivamente expulsos do paraíso da ignorância do kitsch.
Se por um lado ele é eterno, por outro prospera em conjunturas específicas, como nos períodos em que se vive um contexto social de maior acesso à opulência. Não admira ele ter se revelado em toda a sua pujança na medida da ascensão da civilização burguesa.

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