A obra apresenta dezenove narrativas nas quais o autor retoma alguns de seus temas clássicos, como o vazio, o anonimato, o desaparecimento do autor e os intercâmbios entre vida e literatura. ‘Exploradores do abismo’ reúne ideias, citações, fragmentos, linhas narrativas – protagonizada por personagens à beira do precipício, seres que se detém ante o vazio e o estudam e analisam. Nestes contos, que se ligam em surdina aos de Suicídios exemplares, é como se Vila-Matas estendesse uma corda para equilibristas que não parecem tão interessados na travessia, mas sim em mergulhar em si mesmos.’Há neste livro histórias sobre as diversas formas de relacionar-se com a angústia e também histórias sobre a criatividade extrema que pode surgir, às vezes, quando estamos a um passo do abismo’ diz o autor.
Vou pensando que um livro nasce de uma insatisfação, nasce de um vazio, cujos perímetros vão se revelando no decorrer e no final do trabalho. Escrever, certamente, é preencher esse vazio. No livro que terminei ontem, todos os personagens acabam sendo exploradores do abismo, ou melhor, do conteúdo desse abismo. Perscrutam o nada e não param até dar com um de seus possíveis conteúdos, pois decerto não gostariam de ser confundidos com niilistas. Todos eles adotaram, como atitude diante do mundo, encarar o vazio. E estão ligados, sem sombra de dúvida, a uma frase de Kafka: “Fora daqui, este é o meu objetivo”.
Vou andando por Praga pensando nisso, vou a passos rápidos, meu corpo levemente curvado, a cabeça um pouco inclinada, serpeando como se rajadas de vento me arrastassem para um lado e para o outro da calçada. Minhas mãos estão cruzadas nas costas, minhas passadas são largas. Uma ansiedade indefinida me assalta, e com ela um abismo mortal e o tédio sereno dos últimos meses, mas esse é um vazio muito otimista. Afinal, não posso esquecer que estou indo ao Café Kubista.