Este trabalho procura entender algumas questões, particularmente no campo das políticas públicas, que se interpõem nas relações entre os formuladores de políticas na área da Saúde Pública e as políticas governamentais, concernentes às ações coletivas de saúde, que efetivamente foram executadas no estado de São Paulo, de 1920 a 1948.
Parte-se do principio de que a saúde Pública, como campo de organização assistencial e tecnológico das ações de saúde, tem suas atividades qualificadas e não são atividades quaisquer, mas sim aquelas que tomam o processo “coletivo” da saúde e da doença como seu objeto de trabalho.
A Medicina, que também se define como um campo assistencial e tecnológico, aborda, privilegiadamente, o processo da saúde e da doença pelo ângulo do indivíduo e do corpo biológico, dentro de um universo regulado pelos conceitos de normal e patológico.
Assim, embora ambas tomem a saúde e a doença como seu objeto, produzem distintos quadros de compreensão teórica e de ação nas dimensões coletivas e individuais deste processo.
Isso tem algumas implicações, pois a Saúde Pública tem se identificado como o campo das ações de saúde que tem em perspectiva a promoção e proteção da saúde individual e coletiva, através da atuação nas dimensões coletivas; enquanto que a Medicina tem se pautado pela recuperação da saúde do indivíduo.
O que permite que um fenômeno, aparentemente o mesmo, produza conhecimentos diversos, auxiliares da formulação de políticas diferenciadas, embora esses conhecimentos não sejam, necessariamente, dicotômicos ou mesmo opostos. Entretanto, a distinção apontada acima não se mostra suficiente.
O campo da assistência médica tem mostrado ser mais invariável e preso a um processo curativo, que parte das suas concepções sobre o corpo biológico e sobre o que é normal e patológico – mesmo quando incorpora outras dimensões extra-organismo-, como, por exemplo, o grau de instrução do paciente.
O campo das ações coletivas tem apresentado uma gama grande de projetos técno-assistenciais, inclusive incorporando como parte de suas ações e finalidades várias dimensões da prática médica como, por exemplo, quando considera o processo de cura de indivíduos como um elemento fundamental no comportamento dos fenômenos coletivos da saúde.