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A via da reflexão que incorpora Deus como objeto nasce de uma lógica da humanidade em seu desenvolvimento ético e cultural. Trata-se de uma reflexão metafísica em torno de fins e objetivos.
A questão a respeito de Deus não o considera como ponto de partida. É a teologia que procede desse modo. Trata-se de uma possibilidade e, pode-se até dizer, de uma necessidade decorrente desse desenvolvimento histórico.
Não se trata de uma exigência racional como a da via cartesiana, que considerava Deus como exigência da objetividade e da universidade do conhecimento, nem a dos teólogos filósofos, tampouco a via da necessidade de um conceito fundante, que conduz à admissão da existência de Deus.
A via a-teia proposta por Husserl distingue-se também de toda forma originariamente teísta de pensar, e requer a redução de toda doxa religiosa.
Nossa obra consiste na “via a-teia para Deus e a constituição de uma ética teleológica a partir do pensamento de Edmund Husserl”. Espera-se contribuir para a compreensão da formação cultural moderno-ocidental no que se refere à ideia de Deus a partir da via a-teia.
A inspiração para este estudo é encontrada na fenomenologia transcendental husserliana, que nos ajuda a compreender a razão num raio de abertura bem maior do que tem sido considerada na filosofia anterior. Ao mesmo tempo, Husserl compreende o mundo e a História de modo muito positivo.
Não há um destino cego. Metas e valores podem ser conferidos num caminhar dos homens que objetivam “realizar um mundo divino” a partir da liberdade que se encontra na própria História. O modo de filosofar da fenomenologia constitui-se como um “filosofar ateológico”.
Ao mesmo tempo, queremos explorar essa possibilidade, sem cair na via negativa antiteológica; também queremos investigar a conexão dessa reflexão com a eticidade. Em nosso entendimento, a via a-teia constitui-se de modo conexo com a via ética. Ao investigarmos essa questão, somos levados a repensar alguns elementos da formação cultural moderna.
Guiam-nos algumas perguntas: o que significa a conquista da subjetividade por parte do homem moderno e que papel pode ser apresentado na formação da autonomia do próprio homem? Que idealizações científicas e metafísicas contribuíram para a formação dessa cultura, que, conforme avaliação de Husserl, apresenta-se em crise?
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