Um grupo de professores ingleses se reuniu no fim de 1920 para tomar chá numa tarde de verão. O assunto se voltou para uma pergunta curiosa: o gosto do chá muda de acordo com a ordem em que as ervas e o leite são colocados? Essa simples questão resultou em um estudo pioneiro na área. Em Uma Senhora Toma Chá…, David Salsburg conta como a estatística transformou radicalmente os métodos de pesquisa na ciência, aumentando a credibilidade da investigação em diversos campos do saber, tais como a medicina, a política e a publicidade. Tudo de forma leve, partindo de quadros biográficos como o que inspirou o título dessa edição.
A ciência chegou ao século XIX com a firme visão filosófica de que o Universo funcionaria como o mecanismo de um imenso relógio. Acreditava-se que havia um pequeno número de fórmulas matemáticas (como as leis do movimento de Newton e as leis dos gases de Boyle) capazes de descrever a realidade e prever eventos futuros. Tudo de que se necessitava para tal predição era um conjunto completo dessas fórmulas e um grupo de medições a elas associadas, realizadas com suficiente precisão. A cultura popular levou mais de 40 anos para se pôr em dia com essa visão científica.
Típico desse atraso cultural é o diálogo entre o imperador Napoleão Bonaparte e Pierre Simon Laplace nos primeiros anos do século XIX. Laplace havia escrito um livro monumental e definitivo, no qual descreve como calcular as futuras posições de planetas e cometas com base em algumas observações feitas a partir da Terra. “Não encontro menção alguma a Deus em seu tratado, sr. Laplace”, teria questionado Napoleão, ao que Laplace teria respondido: “Eu não tinha necessidade dessa hipótese.”
Muitas pessoas ficaram horrorizadas com o conceito de um Universo mecânico, sem Deus, que funcionasse para sempre sem intervenção divina e com todos os eventos futuros determinados pelos que teriam ocorrido no passado. De certa forma, o movimento romântico do século XIX foi uma reação a esse frio e exato uso da razão. No entanto, uma prova dessa nova ciência apareceu na década de 1840 e deslumbrou a imaginação popular. As leis matemáticas de Newton foram usadas para prever a existência de mais um planeta e Netuno foi descoberto no lugar que as leis previram. Quase todas as resistências ao Universo mecânico desmoronaram, e essa posição filosófica tornou-se parte essencial da cultura popular.