
Está cada vez mais claro que a era das revoluções não acabou. E torna-se da mesma forma evidente que o movimento revolucionário global no século XXI terá origens que remontam menos à tradição do marxismo, ou mesmo do socialismo no sentido estrito, que à do anarquismo.
Em todo lugar, do Leste Europeu à Argentina, de Seattle a Bombaim, as ideias e os princípios anarquistas geram novos sonhos e visões radicais.
Muitas vezes seus expoentes não se denominam “anarquistas”. Existe uma série de outros nomes: autonomismo, antiautoritarismo, horizontalidade, zapatismo, democracia direta…
Mesmo assim, estão sempre presentes os mesmos princípios fundamentais: descentralização, associação voluntária, ajuda mútua, redes sociais e, sobretudo, rejeição a qualquer pensamento de que os fins justifiquem os meios e, mais ainda, de que o negócio do revolucionário seja tomar o poder do Estado e então começar a impor sua própria visão à bala.
Acima de tudo, o anarquismo, como uma ética de prática — a ideia de se construir uma nova sociedade “dentro da casca da antiga” —, tornou-se a inspiração essencial do “movimento dos movimentos” (do qual os autores fazem parte), cujo propósito desde o início é menos tomar o poder do Estado do que expor, deslegitimar e desmantelar mecanismos de comando ao mesmo tempo em que conquista espaços cada vez maiores de autonomia e gestão participativa dentro dele.
Há algumas razões evidentes para o apelo das ideias anarquistas no início do século XXI: a mais óbvia, os fracassos e as catástrofes resultantes de tantos esforços para suplantar o capitalismo assumindo o controle do aparato governamental nos cem anos anteriores.
Um crescente número de revolucionários começou a reconhecer que “a revolução” não virá na forma de um grande momento apocalíptico, a tomada de um equivalente global ao Palácio de Inverno, mas na de um processo muito longo que vem ocorrendo durante a maior parte da história humana (ainda que, como a maioria das coisas, venha se acelerando ultimamente), repleto de estratégias de fuga e evasão tanto quanto de confrontos dramáticos, que jamais irá — aliás, jamais deverá, sente a maioria dos anarquistas — chegar a uma conclusão definitiva.











