Cemitério E Museu

Cemitério E Museu - O caráter eletivo dos artigos que compõem o livro que segue indica que há múltiplas formas de observar esses lugares.

O espectro da morte assusta, em especial por essas bandas do Ocidente. Falar sobre a morte, seja em sua iminência, ou no lugar que demarca o destino final do corpo, os cemitérios, pode ser interpretado como motivo de mau agouro.

É como se observássemos o corvo de Edgar Allan Poe sempre nos flertando, a todo tempo, em todos os cantos. Contudo, ao escrevermos este livro, procuramos observar o cemitério, a morte e, em analogia, os museus, como lugares privilegiados para celebrar a vida.

Do mesmo modo pensamos esses espaços, em que são encenadas as ideias de memória e patrimônio, como dimensões físicas que se abrem à vida; como uma potência de ânimo que nos coloca diante das infindáveis possibilidades de lidar com o subjetivo.

O caráter eletivo dos artigos que compõem o livro Cemitério E Museu indica que há múltiplas formas de observar esses lugares; contudo, partimos de premissas e recortes que são inalienáveis, ao menos para nós.

A primeira delas é que os processos de patrimonialização servem, sobretudo, aos vivos. A rigor, os ritos que envolvem a formação de coleções e o embalsamento dos mortos, por exemplo, aludem aos que o sangue ainda pulsa.

São ritos mnésicos que, apesar das conexões simbólicas com os mortos, são pensados, idealizados e praticados para ofertarem determinada sensação de continuidade e conforto para aqueles que ficaram.

Mais precisamente, partimos da ideia de que os patrimônios são
recursos para se viver. Essas reminiscências que dão contorno ao patrimônio, por esse prisma, assumem uma condição distintamente humana e menos burocrática e cartorial.

Conforme assinalado pelo antropólogo Jean-Louis Tornatore, as ações patrimoniais devem avançar em direção à emoção, ultrapassando a concepção do patrimônio-vestígio; por isso “é preciso seguir na via da imaginação: sem imaginação, não há patrimônio”.

Em outros termos, os vivos são a razão de existência do patrimônio. Ignorar tal sentença é correr o risco de preservarmos lugares congelados, inertes.

Se perdurou por décadas a ideia de patrimonialização ligada à dimensão concreta das coisas, atemo-nos aqui, ao contrário, à natureza espectral das referências patrimoniais, às suas invisibilidades constituidoras.

Assim, parece-nos justo conceber que os objetos têm alma; que, para além do corpo patrimonial existe um animu que os mantém aquecidos e em movimento.

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Cemitério E Museu - O caráter eletivo dos artigos que compõem o livro que segue indica que há múltiplas formas de observar esses lugares.

O espectro da morte assusta, em especial por essas bandas do Ocidente. Falar sobre a morte, seja em sua iminência, ou no lugar que demarca o destino final do corpo, os cemitérios, pode ser interpretado como motivo de mau agouro.

É como se observássemos o corvo de Edgar Allan Poe sempre nos flertando, a todo tempo, em todos os cantos. Contudo, ao escrevermos este livro, procuramos observar o cemitério, a morte e, em analogia, os museus, como lugares privilegiados para celebrar a vida.

Do mesmo modo pensamos esses espaços, em que são encenadas as ideias de memória e patrimônio, como dimensões físicas que se abrem à vida; como uma potência de ânimo que nos coloca diante das infindáveis possibilidades de lidar com o subjetivo.

O caráter eletivo dos artigos que compõem o livro Cemitério E Museu indica que há múltiplas formas de observar esses lugares; contudo, partimos de premissas e recortes que são inalienáveis, ao menos para nós.

A primeira delas é que os processos de patrimonialização servem, sobretudo, aos vivos. A rigor, os ritos que envolvem a formação de coleções e o embalsamento dos mortos, por exemplo, aludem aos que o sangue ainda pulsa.

São ritos mnésicos que, apesar das conexões simbólicas com os mortos, são pensados, idealizados e praticados para ofertarem determinada sensação de continuidade e conforto para aqueles que ficaram.

Mais precisamente, partimos da ideia de que os patrimônios são
recursos para se viver. Essas reminiscências que dão contorno ao patrimônio, por esse prisma, assumem uma condição distintamente humana e menos burocrática e cartorial.

Conforme assinalado pelo antropólogo Jean-Louis Tornatore, as ações patrimoniais devem avançar em direção à emoção, ultrapassando a concepção do patrimônio-vestígio; por isso “é preciso seguir na via da imaginação: sem imaginação, não há patrimônio”.

Em outros termos, os vivos são a razão de existência do patrimônio. Ignorar tal sentença é correr o risco de preservarmos lugares congelados, inertes.

Se perdurou por décadas a ideia de patrimonialização ligada à dimensão concreta das coisas, atemo-nos aqui, ao contrário, à natureza espectral das referências patrimoniais, às suas invisibilidades constituidoras.

Assim, parece-nos justo conceber que os objetos têm alma; que, para além do corpo patrimonial existe um animu que os mantém aquecidos e em movimento.

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