O campo da educação em ciências e tecnologias é um dos mais importantes para a construção de uma sociedade mais justa, equânime e democrática.
A articulação deste campo e o dos estudos sociais da ciência e da tecnologia (Estudos CTS) tem produzido algo novo, muito significativo em termos educacionais, na medida em que os conhecimentos a ensinar passam a incorporar aspectos das realidades sociais e culturais locais, regionais e globais.
Como resultado, conhecimentos locais, ancestrais e consuetudinários passam a ser reconhecidos como válidos, o que reduz a verticalidade nas relações de saber/poder, a percepção de neutralidade da ciência e de autonomia da tecnologia.
As possibilidades oferecidas pelas controvérsias presentes nas Questões Sociocientíficas e Sociotecnológicas, frutos de pesquisas desses campos e suas articulações, anteriormente silenciadas ou tratadas como não pertinentes ao ensino tradicional de ciências e tecnologias, provocam mudanças muito significativas na forma e no conteúdo educacionais.
Uma educação científica e tecnológica com essa perspectiva é emancipadora e muito mais próxima de uma formação para o pleno exercício da cidadania em um universo que se deseja democrático.
Trata-se de superar definitivamente um ensino de ciências e tecnologias descontextualizado e aquilo que Paulo Freire identificou como educação bancária.
Como bem aponta o livro, todas as socioculturas estão, de alguma maneira, envolvidas com aspectos e produtos da atividade científico-tecnológica. Entretanto, em muitos casos, esses envolvimentos não são percebidos criticamente pelos diferentes grupos sociais.
Em muitas situações, os seus efeitos são sentidos, mas não associados aos produtos daquela atividade. Aqui há algo que aponta para a extrema necessidade da presença das Questões Sociocientíficas e Sociotecnológicas na educação científica e tecnológica.
A formação tradicional de cientistas e tecnólogos, favorecida pela abordagem fragmentada do conhecimento e pela afirmação da neutralidade que constrói a não existência da sua natureza social e cultural, produz efeitos de sentido que tendem a amortecer a responsabilidade social e ambiental sobre as consequências nocivas que suas atividades profissionais podem ajudar a produzir.