
Escrever é haver tomado um rumo que leva consigo o eco e o silêncio persistente de outros rumos: o que foi a vida com a escrita, o que teria sido a vida sem ela? Uma travessia da escrita, de sua presença e de sua ausência: a nostalgia efêmera que torna impossível distinguir o que é – o que foi, o que seria – a própria vida – esta, aqui, agora – entre tantas outras potências e impotências da vida.
Há um mundo feito das coisas que nunca poderemos fazer ou tocar ou pensar. Um mundo que se libertou de nosso caminho e que não nos espera mais. Um mundo de outros, onde se juntam relâmpagos e vozes desobedientes à nossa razão. Isto é, sobretudo, o mundo: um sopro que começa e continua, a duração de um tremor nosso, sem nós.
Em Ensaiar A Escrita, entoamos palavras à moda ave. Palavras que voam e ressoam provocando outras formas de escrever as pesquisas em educação, dando a ver composições na escrita: histórias, poesias, imagens, diários, gestos, verbos, delírios…
Apresentamos deslocamentos na forma hegemônica de escrever, inscrevendo-nos no texto pela afetação, afirmando outras linguagens no campo acadêmico. No prefácio, Carlos Skliar nos presenteia com a escrita que ensaia pausas para habitar um tempo profundo, que nos vincule mais com a intensidade do que com a voragem das cronologias. Ou melhor, dito de outro modo: trata-se da distinção entre leitores como consumidores e leitores como confrades.
Com prefácio de Carlos Skliar e posfácio de Anelice Ribetto, Ensaiar A Escrita traz os artigos: “Escritores-educadores e o escrever junto à literatura”, “Crianças e o apreço pelas desimportâncias”, “Caminhando com Bacamarte: a ciência da normalidade e a escola frente à diversidade”, “Memórias de um diário: perspectivas desde a escrita como ensaio e autoeducação”, “A questão babélica ou como escapar do labirinto de livros finitos”, “Ensaiando escritas biografemáticas: marginalizando formas outras de escrever a vida a partir do diário de pesquisa”, “Tecer(se) em uma pesquisa em educação: diferir(se) entre escritas acadêmicas outras”, “Ensaio sobre a produção da inexistência e a potência da escrita como autoria da vida” e “O instante de minha morte: Maurice Blanchot e a invenção de vidas em comum”.
