
O tráfico de escravos do Atlântico, apesar de sua importância central na história econômica e social do imperialismo ocidental, de seu papel fundamental na história da América e de seu profundo impacto sobre a sociedade africana, permaneceu como uma das áreas menos estudadas na moderna historiografia ocidental até as últimas décadas do século passado.
A falta de interesse não se deu por falta de fontes, pois o material disponível para seu estudo foi abundante desde o começo. Ao contrário, foi ignorado devido a sua associação com o Imperialismo europeu de que resultou por um problema moralmente difícil, a que se acresceu a falta de instrumental metodológico, que permitisse analisar complexos dados quantitativos e ideológicos.
Apesar de tantas publicações, seja na historiografia estrangeira, nacional e até mesmo eclesiástica, a escravidão continua a ser um campo aberto a diferentes pesquisas e abordagens, tanto pela investigação de novas fontes quanto pelos novos enfoques às fontes já conhecidas. Tais lacunas a serem preenchidas, ficaram muito evidentes quando da publicação da lei n.º 10.639, de 09 de janeiro de 2003, sancionada pelo Presidente da República, que alterou a legislação anterior que estabelecia as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Desta forma, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, tornou-se obrigatório o estudo da História da África e dos Africanos e da luta dos negros no Brasil, levando um novo interesse pelo tema, mas demonstrando também, um grande abismo entre a historiografia didática e a historiografia acadêmica.
Nesse sentido, Os Filhos De Cam: A Legitimação Católica Da Escravidão Do Negro buscou preencher uma dessas muitas brechas, ao se enveredar por uma África que vai muito além, daquela apresentada pelos livros didáticos, como se ela passasse a existir, a partir do contato com o europeu.
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