
Na poesia tudo cabe e tudo escapa. Sem tempo próprio para existir, a poesia pode surgir de onde menos se espera, sendo a infância seu grande poço. Longe de ser um escarro, a poesia nasce por ela sendo filha dela mesma, deixando o poeta órfão. Assim surgiu este livro de Cláudio Cândido, pseudônimo de Kissinger C. de Barros, jovem contista e poeta amazonense, radicado no Acre.
Esta obra pertence a ela mesma. Enganado, penso eu possuí-la. Assim como não mais possuo minha infância, mesmo sendo tão somente minha.
Infância é poço sem fundo. Só a poesia pode alcançá-la. Às vezes, mergulhado no poço das minhas memórias, a feiúra e a negação de um cágado, afeito aos padrões de beleza, escritos despalavreados, como um bobo sentado num galho, a consagração de desdizer verbos, e, finalmente, as insígnias de velhos desditosos que insistem e persistem em manter-se intactos.
Quando menos se esperava, ela, a poesia, batia à porta. Tinha necessidade de nascer urgente. Ser colhida, mesmo que com um balde das profundezas da memória, como que numa necessidade de banhar-se de palavras retiradas de uma cacimba, o misto de prazer e tristeza.
O poeta treme frente à força tão grande. Escapar a ela, à poesia, impossível. Os poetas não são decifradores. Antes são, frente à poesia, meros tradutores, veículos para as palavras. Poetas já nascem grávidos?
A voz do poeta é parto. E há poetas que parem poemas e há poetas que parem poetas. Em Estética Do Matamatá são os poemas que parem o poeta: um ente de sílabas, que existe propriamente dito no mundo que inventou pra si; no verso escrito, no corpo inscrito. Não é o tipo de coisa que se fala sem ferver por dentro. É como morder os lábios da noite.
Nessa metamorfose poética, Cláudio Cândido traz a verve do verbo reverberando na vida. Quiçá o leitor, assaltado por suas insígnias, possa se deixar levar pelos devires poéticos e experimentar os diversos outros – de si mesmo.











