
Há uma estreita relação no que culturalmente se elege como comida e no que é plantado e consumido por cada povo. Ducrot comunga dessa afirmação salientando que a complexidade de nossa cultura requer um estudo do comer olhando além, seus roçados e quintais pois, eles são como expressão reveladora de uma cultura. Contudo, é a diversidade cultural junto com a globalização,aquelas que favorecem na atualidade comermos “fragmentos de culturais locais,” como dizem De Certeau; Giard; Mayol.
Almeida já dizia que o certo é que tanto a comida quanto o alimento são produtos das diversidades culturais. Por isso, não é estranho que os Quilombolas-Kalunga do Nordeste de Goiás ainda tenham o “seu” comer, singular, propiciando uma identidade.
Essa identidade alimentar fortemente associada a um elemento da natureza, na contemporaneidade tem a influencia da comida conhecida em cidades visitadas, em receitas vistas na televisão que distancia a comida original. Esta identidade comparece diluída em diferentes territórios. Isso porque o processo de globalização tende a esgarçar bastante tal amarra identitária alimentar.
Outro aspecto a destacar é que, pela análise da cultura do comer, busca-se a compreensão da sociedade e, resumidamente, dos modos de vida. Porém, quem são os Kalunga?
Estes povos Quilombolas Kalunga estão localizados na região Nordeste do estado de Goiás. A área do Sitio Histórico e Patrimonio Cultural Quilombola-Kalunga, de 253,000 ha se estende pelos municípios de Cavalcanti, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros.
De acordo com Aguiar os municípios ficam a uma altitude média de 800 metros do nível do mar, ultrapassando em alguns pontos os 1600 metros, com chapadas, morros, serras e, amplos vãos. Este relevo acidentado está ocupado pela maior área de cerrado preservado no estado de Goiás e, ele mantem esta posição por não constituir um espaço atraente para a expansão do agronegócio, particularmente plantios de soja e milho.
O Sítio Kalunga é uma terra coletiva, reconhecida pelo estado e em processo de regularização fundiária. As terras que compõem o território Quilombola foram ocupadas desde fins do século XVIII por afrodescendentes que fugiram da escravidão; outros que, aforriados não tinham condições de compra de terra e acabaram procurando locais de dificeis acessos, como o Nordeste Goiano, misturando à grupos indígenas que já habitavam ou transitavam o local.
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