A finitude da existência biológica do ser humano o impeliu a construir socialmente objetos, teorias e conceitos para alongar a percepção de sua vida limitada pelo nascimento e pela morte. Se, de um jeito ou de outro, o tempo passa e o fim se aproxima, algumas coisas nos permitem ter a sensação de que podemos “existir” por anos a fio: uma fotografia que amarela dentro da moldura, mas persiste na parede; a receita daquele doce gostoso que passa de geração em geração e atualiza quem o fez pela primeira vez; nossas memórias constantemente narradas; as camadas de cultura que a arqueologia desvenda; as escrituras sagradas sempre relidas nos rituais; as músicas que se estruturam no tempo, mas sempre o desafiam; os amores chamados de eternos ou infinitos. Cada uma dessas ações e objetos, construções culturais e simbólicas por definição, tenta borrar a passagem inexorável do tempo, redefinir seu entendimento e alargá-lo em alguma medida. Isso ocorre tanto no âmbito da percepção individual e da subjetividade, como também se partilha em amplos coletivos que nos ajudam a dar sentido ao alongamento da duração.
As mídias, das mais antigas às mais recentes, podem ser pensadas como tais artefatos – ferramentas que, na tarefa diária de mediar a vida e seus registros, reconstroem os momentos que passam e que não voltam.
Não se trata apenas de mero registro documental. Suas ações permitem organizar a (re)construção da história e dos tempos para que as sociedades se conheçam, repensem-se e se reconstruam continuamente.
Isso aponta para uma definição do tempo como duração e, principalmente, como construção relativa e mutável. Desde Albert Einstein e sua teoria da relatividade, sabemos da relativização da noção de tempo.
Ou seja, não é o mesmo sempre, mas depende da percepção que se tem dele. A marcação ininterrupta do relógio é distinto do tempo narrativo do cinema, do sonho individual, das saudades de quem se ama ou do imediatismo do jornalismo e das redes sociais. Mais ainda, o tempo hoje parece ter perdido a noção de mera sucessão, pois é percebido como um acúmulo instantâneo de situações e informações.
Comunicação, Mídias E Temporalidades
- Ciências Sociais, Comunicação
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