
O livro que ora apresentamos tem sua origem no seminário que ministramos no Programa de Pós-Graduação em História, da PUCRS, intitulado Imagem E Poder: Cultura Visual Nas Ditaduras Latino-Americanas.
Ao longo de três edições, entre 2016 e 2018, procuramos abordar questões relacionadas à fotografia produzida no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Chile, no período de suas respectivas ditaduras, a fim de compreender a formação de uma cultura visual ou iconosfera, que interpretava a cultura política da época a partir de diferentes estratégias.
Entendemos o fotojornalismo e a fotografia documental como forma de crítica aos governos ditatoriais vigentes, procurando também observar as estratégias de legitimação utilizadas pelos próprios governos militares.
O caminho de reflexão proposto aos mestrandos e doutorandos buscou relacionar a produção fotográfica publicada em jornais e revistas nos quatro países com o contexto de organização dos fotógrafos em agências e a multiplicação de espaços de exposição e debate sobre a fotografia enquanto linguagem, bem como a problematização da memória que se forja no pós-ditadura com o patrimônio cultural-visual oriundo desse manejo memorial.
A produção de imagens ocupou, nestas disputas, um papel fundamental na construção e na consolidação de memórias da ditadura. Organizações de familiares de desaparecidos e de direitos humanos se opuseram ao silêncio e à invisibilidade estratégica desejada pelo aparelho repressor de Estado.
Na luta pela memória e pela justiça, a diluição do drama íntimo no drama coletivo foi necessária para instalar representações que permitissem socializar as pautas de reivindicação dos movimentos de direitos humanos pelo direito à memória e à reparação pública.
Esta socialização de imagens, de representações e de discursos serviu às reivindicações por verdade, por justiça e por memória defendidas por uma ampla parte da sociedade chilena, por exemplo, que rebatia os discursos de conciliação e de esquecimento defendidos por grupos políticos de direita a partir do final da década de 1990.
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