
Neste livro, Cassio pôde expressar mais uma vez sua sensibilidade na compreensão do tema, respeito e delicadeza na abordagem das difíceis questões que envolvem a vida das pessoas em situação de rua. Seus textos têm essa capacidade de nos tocar por meio de histórias tão humanas e complexas que desarmam qualquer tipo de preconceito.
Uma característica contundente dos textos é essa humanização e aproximação sensível a uma realidade de tanto desamparo, mas ao mesmo tempo de sonhos, promessas e possibilidades de reinventar, no cotidiano, a esperança.
Ao término da leitura do livro, imaginei uma complementação ao título Vida Que Segue, Rua Que Muda, mas nada acontece em termos de políticas públicas de saúde, trabalho e habitação para a população em situação de rua, isto é, O Permanente Descompasso Entre A Realidade Da População De Rua E As Políticas De Atendimento, como bem completa o título.
Cassio aponta a vida de um contingente de pessoas em situação de total abandono nas ruas, vivendo ao relento, à sua própria sorte e sem os direitos sociais respeitados, um cotidiano violento de repressão e farto de impedimentos à vida nas ruas e nos serviços públicos. O autor consegue descrever situações cotidianas porque possui grande qualidade de relação e sabe ouvir e valorizar o interlocutor.
Assim, conseguiu extrair de seu trabalho com as pessoas em situação de rua não apenas aprendizado profissional, mas sabedoria quando diz que “a rua não nos concede o privilégio (ou a arrogância) da certeza”.
Apesar de a constituição federal brasileira e de outras leis conquistadas pela população de rua que estabeleceram direitos dos cidadãos e deveres do Estado, ao longo dos últimos 30 anos, o que se vê hoje em São Paulo, não são apenas o descaso e a ineficiência dos governantes, os quais não respeitam marcos legais existentes, mas também a substituição de políticas públicas por ações repressivas, higienistas e violentas exercidas por agentes públicos ligados aos órgãos de segurança e de limpeza urbana.
E essa situação é agravada com o apoio de parte de uma sociedade conservadora e preconceituosa que se identificou com a campanha eleitoral de um candidato à Prefeitura de São Paulo e elegeu um governante que propõe manter a cidade limpa e linda à custa de processos de higienização social.
