Discriminação E Desigualdades Raciais No Brasil
é um marco da sociologia brasileira. Leitura obrigatória e uma das principais referências teóricas na formação de uma nova geração de pesquisadores dedicados aos estudos sobre a questão racial, essa obra é um clássico em sua área. Discriminação E Desigualdades Raciais No Brasil provocou também impacto no campo político, sendo reconhecido por militantes do movimento negro brasileiro como uma das principais obras de história política da questão racial em nosso país.
Pelo menos três grandes características fazem de Discriminação E Desigualdades Raciais No Brasil uma leitura obrigatória. Em primeiro lugar, o livro parte de uma incursão importante nos paradigmas teóricos da relação senhor/escravo e do processo de transição para a liberdade para uma análise das relações raciais pós-emancipação. O destaque dado no livro ao diálogo com as teses sobre escravidão foi a forma encontrada por Carlos para consolidar sua interpretação crítica à orientação teórica que explicava as relações raciais contemporâneas como uma sobrevivência do passado escravista. Carlos sempre foi categórico ao afirmar que, para entender a estratificação racial e os mecanismos que reproduzem as desigualdades raciais, era necessário abandonar a ideia de legado, ou, pelo menos, tirar a ênfase desta explicação.
Entretanto, ele reconhece a existência de um legado do escravismo, localizado no analfabetismo maciço, na limitada diversificação de habilidades ocupacionais e na grande concentração demográfica em áreas rurais subdesenvolvidas, sendo o tema das desigualdades regionais uma preocupação constante na sua obra.
Esta crítica foi o caminho encontrado pelo autor para construir outra grande contribuição de seu livro: sua oposição à perspectiva que postulava uma incompatibilidade entre industrialização e racismo. Carlos defendia que a industrialização não eliminara a adscrição racial como critério que estrutura as relações sociais. Esta crítica impactou muitos trabalhos nas gerações seguintes.
O terceiro aspecto que destaco no livro é o brilhante exercício sociológico que Carlos realiza ao tratar da relação entre sistema de estratificação social, a estrutura de classes e raça, dialogando com autores clássicos da Sociologia. Argumenta novamente que raça não deve ser entendida como um critério subordinado na explicação da posição dos não brancos na estrutura de classes e no sistema de estratificação social.