
Brasil, país do carnaval, onde tudo pode. Marcado pela violência homofóbica. Travestis são patrimônio simbólico e mostram como a sociedade brasileira lida com questões de gênero e sexualidade. Travestis a perturbar a heterossexualidade compulsória que tantos seguem à risca. Zombam da norma. Apontam para apetites mais próximos dos que muitos admitiriam. São corpos desejados, mas tratados como abjetos. Travestis alimentam narrativas literárias de puro erotismo.
Personagens Travestis Em Narrativas Brasileiras Do Século XX investiga as configurações de personagens travestis na narrativa brasileira do século XX, mais especificamente, em narrativas publicadas entre as décadas de 1960-1980, partindo da descrição, análise e interpretação na construção do corpo travesti materializado nos “seres de papel” da ficção brasileira.
O corpus de análise foi constituído por narrativas longas (romance e novela) escolhidas, primeiro, por um critério temático: as obras necessariamente possuem protagonistas travestis envolvidas em conflitos fundamentais para o enredo. Em segundo, devido ao fato de as narrativas que compõem o corpus terem sido publicadas durante o período da revolução sexual, da ditadura militar, do boom do movimento gay e do surto de infecção pelo HIV (1960-1980), o que parece indicar a importância de uma contextualização histórica dessas produções, bem como a relação de enfrentamento dessas com os dogmas políticos vigentes no período.
O livro está Organizado em quatro capítulos: o primeiro intitulado “Travestis na cultura e na literatura”, no qual discutimos o fenômeno da travestilidade na sociedade, na cultura e na literatura brasileira por meio de um panorama histórico e conceitual; no segundo capítulo, nomeado “Corpos de papel”, debatemos as duas principais categorias escolhidas para análise das obras: o corpo e a personagem de ficção; no capítulo três, “O corpo em transformação”, as protagonistas travestis de Uma mulher diferente (1965), de Cassandra Rios e O Travesti, de Adelaide Carraro são analisadas, enfatizando-se a questão da violência e do contexto repressor nos dois romances; o quarto capítulo, “Corpos subversivos e utópicos”, explora as protagonistas travestis nas narrativas “O Milagre” (1978), de Roberto Freire e O fantasma travesti (1988), de Sylvia Orthof, evidenciando a relação entre travestilidade, família e religião e a figura da travesti como metáfora da transgressão. Por fim, em nossa conclusão apontamos como as obras discutidas levam seus possíveis leitores/as a refletir sobre a condição da personagem travesti na literatura brasileira.











