
Sim, Eu Digo Sim não é um tratado acadêmico sobre o Ulysses.
Ele também não é a chave de todos os enigmas nem a fonte de todos os dados.
Foi inteiro pensado para o “leitor comum” e prefere partir do princípio de que o Ulysses — complexo, denso etc. — de certa forma ainda padece por causa dessas reputações. Elas são todas verdadeiras, reconheçamos, mas talvez tenham obscurecido outros méritos e outros atrativos.
A ideia básica aqui é a de que todo leitor interessado em literatura de qualidade tem a capacidade e o direito de passar pela experiência profundamente transformadora que é a leitura do romance de Joyce.
E não apenas os especialistas.
E não somente os obcecados por charadas e estruturas.
No entanto o leitor brasileiro se vê realmente privado em algum grau dessa possibilidade plena, e isso pela inexistência quase total de um aparato de auxílio em português. E é bem aqui que Sim, Eu Digo Sim pretende se colocar.
Mas, a bem da verdade, mesmo entre os vários guias de leitura do Ulysses que hoje estão disponíveis em inglês ou em outros idiomas, este aqui pretende ser um pouco diferente. O que ele quer mesmo te dar é uma visita guiada.
Muito mais do que esquemas, paralelos entre a obra e a vida de Joyce, interpretações de simbolismos, leituras segundo esta ou aquela corrente crítica, interpretações pessoais originais deste ou daquele aspecto, ou mesmo da totalidade do romance (todas coisas mais que relevantes, que eu mesmo já fiz e hei de continuar fazendo em outros lugares, e que têm aqui também algum espaço), o que ele quer ser é um acompanhante que caminhe página a página pelo livro, como que te levando pela mão e dizendo insistentemente “isso aqui é importante”, “isso aqui vai ser importante”.
Um acompanhante que ande do teu lado mostrando as coisas a que você deve mesmo prestar atenção (e que têm enorme risco de passar despercebidas na primeira leitura, ou mesmo nas primeiras leituras), tentando te ensinar, não a ler o Ulysses, porque isso o próprio livro faz melhor que ninguém, mas a aprender com o livro.
Aprender sobre leitura, narradores, romances.
Aprender sobre Bloom, Dedalus e Molly. Sobre o padre Conmee, Bob Doran, Lenehan e até sobre Boylan. Sobre o Ulysses.
Aprender sobre gente. Sobre você, inclusive. Sobre literatura.
Assim, por exemplo, os famosos quadros de correspondências, símbolos e técnicas que o próprio Joyce forneceu aparecem comentados logo de início, para que a partir daí seja possível a gente seguir em frente de forma mais livre, mais ao sabor das páginas.
Pois, sim, é verdade que o Ulysses se baseia na Odisseia de Homero. Sim, é verdade que cada episódio se passa em determinado horário, tem determinado símbolo e determinada técnica. E essas coisas são relevantes, estruturam mesmo o livro; são as vigas em torno das quais Joyce ergueu uma obra de precisão, abundância e detalhismo atordoantes.
E precisam ser abordadas. E são.
Mas eu trabalho com a convicção clara de que, apesar de serem elas que despertam o interesse da maioria dos leitores decididos a se aproximar do livro, os motivos que fazem com que imensas quantidades de leitores passem o resto da vida relendo o livro são definitivamente de outra ordem.
Porque o Ulysses mudou a história do romance. E pode até ter dado cabo dela. E este livro pretende também te fazer ver como isso aconteceu.
E o Ulysses pode mudar você. Como qualquer grande romance. E Sim, Eu Digo Sim pretende te dar a possibilidade de ver isso também.
Muito obrigado pela leitura.
