Agonia Do Eros

Para Byung-Chul Han, um dos traços característicos da sociedade ocidental é a agonia de Eros. O eu narcísico tende a fazer dos outros um seu prolongamento.

Na Alemanha dos sistemáticos Kant e Hegel, a obra de Byung-Chul Han surpreende pelo caráter lacônico e lapidar. Mas o caráter inovador do seu pensamento desafiou Sloterdijk e entusiasmou os leitores alemães, espanhóis e sul-coreanos.

Nos últimos tempos tem-se propalado o fim do amor. Hoje, o amor estaria desaparecendo por causa da infinita liberdade de escolha, da multiplicidade de opções e da coerção de otimização.

Num mundo de possibilidades ilimitadas, o amor não tem vez. Acusa-se também o arrefecimento da paixão. Cuja causa, segundo Eva Illouz, em seu livro Warum Liebe weh tut (Por que o amor machuca), reside na racionalização do amor e na ampliação da tecnologia da escolha.

Mas essas teorias sociológicas do amor não percebem que, hoje, está em curso algo que sufoca essencialmente o amor, bem mais do que a liberdade infinda ou as possibilidades ilimitadas.

Não é apenas a oferta de outros outros que contribui para a crise do amor, mas a erosão do Outro, que por ora ocorre em todos os âmbitos da vida e caminha cada vez mais de mãos dadas com a narcisificação do si-mesmo. O fato de o outro desaparecer é um processo dramático, mas, fatalmente avança, de modo sorrateiro e pouco perceptível.

O eros aplica-se em sentido enfático ao outro que não pode ser abarcado pelo regime do eu. No inferno do igual, que vai igualando cada vez mais a sociedade atual, já não mais nos encontramos, portanto, com a experiência erótica.

Essa experiência pressupõe a assimetria e exterioridade do outro. Não por acaso, Sócrates enquanto amante, chama-a de atopos.

O outro que eu desejo (begehre) e me fascina é sem-lugar. Ele se retrai à linguagem do igual: “Enquanto atopos, o outro abala a linguagem: não se pode falar dele, sobre ele; todo e qualquer atributo é falso, doloroso, insensível, constrangedor”. A cultura atual da comparação constante não admite a negatividade do atopos.

Estamos constantemente comparando tudo com tudo, e com isso nivelamos tudo ao igual, porque perdemos de vista justamente a experiência da atopia do outro. A negatividade do outro atópico se retrai frente ao consumismo.

Assim, a tendência da sociedade de consumo é eliminar a alteridade atópica em prol de diferenças consumíveis, sim, heterotópicas. A diferença é uma positividade em contraposição à alteridade. Hoje, a negatividade está desaparecendo por todo lado. Tudo é nivelado e se transforma em objeto de consumo.

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http://livrandante.com.br/contribuicao/caneca-fusquinha-branca/

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Para Byung-Chul Han, um dos traços característicos da sociedade ocidental é a agonia de Eros. O eu narcísico tende a fazer dos outros um seu prolongamento.

Na Alemanha dos sistemáticos Kant e Hegel, a obra de Byung-Chul Han surpreende pelo caráter lacônico e lapidar. Mas o caráter inovador do seu pensamento desafiou Sloterdijk e entusiasmou os leitores alemães, espanhóis e sul-coreanos.

Nos últimos tempos tem-se propalado o fim do amor. Hoje, o amor estaria desaparecendo por causa da infinita liberdade de escolha, da multiplicidade de opções e da coerção de otimização.

Num mundo de possibilidades ilimitadas, o amor não tem vez. Acusa-se também o arrefecimento da paixão. Cuja causa, segundo Eva Illouz, em seu livro Warum Liebe weh tut (Por que o amor machuca), reside na racionalização do amor e na ampliação da tecnologia da escolha.

Mas essas teorias sociológicas do amor não percebem que, hoje, está em curso algo que sufoca essencialmente o amor, bem mais do que a liberdade infinda ou as possibilidades ilimitadas.

Não é apenas a oferta de outros outros que contribui para a crise do amor, mas a erosão do Outro, que por ora ocorre em todos os âmbitos da vida e caminha cada vez mais de mãos dadas com a narcisificação do si-mesmo. O fato de o outro desaparecer é um processo dramático, mas, fatalmente avança, de modo sorrateiro e pouco perceptível.

O eros aplica-se em sentido enfático ao outro que não pode ser abarcado pelo regime do eu. No inferno do igual, que vai igualando cada vez mais a sociedade atual, já não mais nos encontramos, portanto, com a experiência erótica.

Essa experiência pressupõe a assimetria e exterioridade do outro. Não por acaso, Sócrates enquanto amante, chama-a de atopos.

O outro que eu desejo (begehre) e me fascina é sem-lugar. Ele se retrai à linguagem do igual: “Enquanto atopos, o outro abala a linguagem: não se pode falar dele, sobre ele; todo e qualquer atributo é falso, doloroso, insensível, constrangedor”. A cultura atual da comparação constante não admite a negatividade do atopos.

Estamos constantemente comparando tudo com tudo, e com isso nivelamos tudo ao igual, porque perdemos de vista justamente a experiência da atopia do outro. A negatividade do outro atópico se retrai frente ao consumismo.

Assim, a tendência da sociedade de consumo é eliminar a alteridade atópica em prol de diferenças consumíveis, sim, heterotópicas. A diferença é uma positividade em contraposição à alteridade. Hoje, a negatividade está desaparecendo por todo lado. Tudo é nivelado e se transforma em objeto de consumo.

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