Utz

Uma das maiores criações do romancista Bruce Chatwin, o personagem Utz é uma espécie de alquimista do século XX, que buscava na porcelana os segredos da pedra filosofal, a substância da longevidade, da potência e da invulnerabilidade.
No seu pequeno apartamento da rua Siroká, em Praga, transformado numa espécie de santuário onde os horrores do século XX não entravam, o tcheco de origem judaica Kaspar Utz abrigava sua coleção particular das primorosas porcelanas de Meissen. Comparadas à realidade delicada das estatuetas, a Gestapo e a polícia secreta não passavam de grosseiras imitações em gesso.
Era com o colorido Arlequim, o farsante, que o colecionador mais se identificava. Como ele, Utz era perito em subtrair-se ardilosamente ao poder das autoridades, que viam em suas peças sinais da decadência e da corrupção burguesa.
Persistindo na ilusão de que a Cortina de Ferro era um obstáculo facilmente transponível, Utz estava sempre disposto a abandonar Praga, mas era invariavelmente impedido pelo amor à coleção - um mundo de miniaturas resplandecentes que contava a história silenciosa de uma Europa que já não existia.
Com doses equilibradas de agilidade narrativa, de erudição e de uma ironia que por vezes chega a explicitar-se em humor, Bruce Chatwin cria um livro que é exatamente como uma peça da coleção que o personagem principal tanto venera - uma obra rara e valiosa.

No verão de 1967 — um ano antes de os tanques soviéticos invadirem a Tchecoslováquia — fui passar uma semana em Praga, para fazer pesquisa histórica. Sabedor de meu interesse pelo Renascimento do Norte, o editor de uma revista me encomendara um artigo sobre a paixão do imperador Rodolfo II por colecionar objetos exóticos: paixão que, em seus últimos anos, era a única cura para sua depressão.
Planejei o artigo como parte de um trabalho maior sobre a psicologia — ou psicopatologia — do colecionador compulsivo. Por preguiça e por minha ignorância das línguas, essa incursão nos estudos da Europa Central não resultou em nada. Lembro-me do episódio como de umas férias bastante agradáveis às custas de outros.
A caminho da Tchecoslováquia parei no Schloss Ambras, nos arredores de Innsbruck, para visitar o Kunstkammer ou “gabinete de curiosidades” organizado pelo tio de Rodolfo, o arquiduque Ferdinando do Tirol. (Durante muito tempo tio e sobrinho disputaram amistosamente a posse da presa de narval da família Habsburgo e de uma tazza de ágata romana tardia que podia ou não ser o Santo Graal.).

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Uma das maiores criações do romancista Bruce Chatwin, o personagem Utz é uma espécie de alquimista do século XX, que buscava na porcelana os segredos da pedra filosofal, a substância da longevidade, da potência e da invulnerabilidade.
No seu pequeno apartamento da rua Siroká, em Praga, transformado numa espécie de santuário onde os horrores do século XX não entravam, o tcheco de origem judaica Kaspar Utz abrigava sua coleção particular das primorosas porcelanas de Meissen. Comparadas à realidade delicada das estatuetas, a Gestapo e a polícia secreta não passavam de grosseiras imitações em gesso.
Era com o colorido Arlequim, o farsante, que o colecionador mais se identificava. Como ele, Utz era perito em subtrair-se ardilosamente ao poder das autoridades, que viam em suas peças sinais da decadência e da corrupção burguesa.
Persistindo na ilusão de que a Cortina de Ferro era um obstáculo facilmente transponível, Utz estava sempre disposto a abandonar Praga, mas era invariavelmente impedido pelo amor à coleção – um mundo de miniaturas resplandecentes que contava a história silenciosa de uma Europa que já não existia.
Com doses equilibradas de agilidade narrativa, de erudição e de uma ironia que por vezes chega a explicitar-se em humor, Bruce Chatwin cria um livro que é exatamente como uma peça da coleção que o personagem principal tanto venera – uma obra rara e valiosa.
No verão de 1967 — um ano antes de os tanques soviéticos invadirem a Tchecoslováquia — fui passar uma semana em Praga, para fazer pesquisa histórica. Sabedor de meu interesse pelo Renascimento do Norte, o editor de uma revista me encomendara um artigo sobre a paixão do imperador Rodolfo II por colecionar objetos exóticos: paixão que, em seus últimos anos, era a única cura para sua depressão.Planejei o artigo como parte de um trabalho maior sobre a psicologia — ou psicopatologia — do colecionador compulsivo. Por preguiça e por minha ignorância das línguas, essa incursão nos estudos da Europa Central não resultou em nada. Lembro-me do episódio como de umas férias bastante agradáveis às custas de outros.A caminho da Tchecoslováquia parei no Schloss Ambras, nos arredores de Innsbruck, para visitar o Kunstkammer ou “gabinete de curiosidades” organizado pelo tio de Rodolfo, o arquiduque Ferdinando do Tirol. (Durante muito tempo tio e sobrinho disputaram amistosamente a posse da presa de narval da família Habsburgo e de uma tazza de ágata romana tardia que podia ou não ser o Santo Graal.).

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