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Ter voz. Visibilidade. Representatividade. Expressar-se para manifestar suas angústias, críticas, histórias, alegrias, conquistas. Ter a capacidade de ampliar sua fala, de colocar a palavra em movimento e fazer com que ela possa alcançar corações e mentes e, por que não, transformá-las.
Isso (entre muitas outras coisas) foi, por muito tempo, negado de forma veemente às mulheres negras brasileiras, reflexo do passado escravocrata e colonial que, em pleno ano de 2019, insiste em vigorar no país.
Vozes Insurgentes De Mulheres Negras representa a pluralidade de vivências e olhares que fundamentaram o feminismo negro, ou melhor, a ação do movimento de mulheres negras no Brasil.
Afinal, o racismo é tão vil que nos nega até o direito de sermos diversas. Os textos que aqui estão poderiam ter sido escritos hoje, o que comprova a urgência dos debates que estas mulheres difundiram desde a época de Esperança Garcia, passando por Laudelina de Campos Mello, Carolina de Jesus, Lélia Gonzales.
Inegável que tivemos conquistas e avanços desde quando Esperança Garcia se tornou a primeira mulher negra escravizada advogada no Piauí. Porém, os corpos negros femininos seguem sofrendo com os diversos tipos de violência, resultado das opressões que se interseccionam no gênero, raça, classe e sexualidade.
Aqui temos relato, discurso, entrevista, poema, composição, texto jornalístico, conteúdos que dialogam e se complementam em um documento histórico que enche meu coração de orgulho por fazer parte disso.
Vale a pena registrar aqui que ainda há uma vasta produção de mulheres negras, nossas antigas, a ser “descoberta”, conhecida e que, por motivos de tamanho e necessidade de critérios, ficaram de fora desta publicação.
Quem sabe este seja um caminho para Vozes Insurgentes De Mulheres Negras alcançar seu segundo volume. Afinal, fomos, somos e seremos muitas. Como dizia a mensagem de uma camiseta usada certa vez por Marielle Franco: diversas, mas não dispersas.
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