Em O país da bola, Betty Milan apresenta o futebol como marca de uma paixão nacional e expõe sua dimensão de construção de identidade e expressão de uma sociedade e uma cultura.
Milan lembra partidas memoráveis, jogadas impressionantes, grandes jogadores e músicas cantadas pela torcida.
E, se é na música que termina a partida, o samba e carnaval aparecem como manifestações indissociáveis do futebol – espaços de festejo, alegria, mitificação e realização da crença na vitória e do faz de conta, da fantasia, da imaginação, do improviso, da liberdade, da beleza e da brincadeira.
O país da bola é, para Betty Milan, um Brasil dos jogadores, da torcida e do povo, marcado pela independência política e pela capacidade de expressão da força popular.
A cultura francesa privilegia o droit, a inglesa o fair play e a espanhola el honor. Nós, brasileiros, privilegiamos o brincar. Aconteça o que acontecer, nós brincamos, porque para isso podemos prescindir de tudo, só precisamos da imaginação. O samba que o diga:
Com pandeiro ou sem pandeiro
Ê, ê, ê, ê, eu brinco
Com dinheiro ou sem dinheiro
Ê, ê, ê, ê, ê eu brinco
Tanto podemos abrir mão do pandeiro quanto do dinheiro por sermos capazes de improvisar o que desejamos, valendo-nos do que estiver ao alcance da mão. Os brasileiros de todas as classes são escolados na improvisação, que pode mesmo ser considerada um traço cultural.
Essa tendência se manifesta claramente, por exemplo, no Carnaval, festa em que é hábito recorrermos ao que está no armário para fazer a fantasia. Assim, a partir de um top chegamos a uma bailarina, acrescentando apenas um saiote de tule e um chapeuzinho redondo feito com tampa de caixa de queijo e tecido bicolor. Uma frente única, um fuseau e alguns colares de pérolas falsas compõem a roupa da fantasia de turca, que só requer a compra de um chapéu — a menos que também o façamos em casa com feltro e pingente de borla.
Interessa aqui focalizar o estilo deste povo e, para isso, nós atravessaremos O país da bola, indicando o que faz do football o futebol e, dos nossos jogadores, figuras lendárias. Na travessia, o leitor enveredará pelo Brasil que faz sonhar, o Braaasilll, e talvez se diga que o gol bem pode nos representar.