
Há temas que são de difícil abordagem. Outros preferimos não tocar para evitar que vozes dissonantes ou que o contraditório se transforme em tensão. Este livro, no entanto, desde a sua proposta inicial, lança-se a fazer ambas as coisas: tratar de temas difíceis, que remexem as nossas entranhas, já que nos levam a uma viagem aos nossos próprios valores, à nossa capacidade de ver o Outro; e, ao mesmo tempo, propõe-se a projetar luz a angulações e a problemáticas que mostram as dissonâncias, os contraditórios, os desvios, os conflitos.
Especificamente, buscamos evidenciar como a comunicação lida com tais questões em uma ambiência marcada pela midiatização cada vez mais complexa em termos de relações, vivências e formas de interação.
Embora diversos autores, dentre eles Norbert Elias e John L. Scotson, na seminal obra Estabelecidos e outsiders, já tenham abordado a intolerância, e Foucault tenha produzido ampla obra sobre a temática do discurso de ódio, assim como Honneth tenha se dedicado a compreender a força motriz das lutas por reconhecimento, verifica-se que tais conceitos parecem ter adquirido novas dimensões na sociedade atual, intensificando-se globalmente tantos nas mídias massivas e nas digitais quanto nas relações interpessoais.
É nesse cenário que passamos a pensar a sociedade brasileira e questionamos: como compreender as crescentes manifestações da intolerância, das mais variadas
naturezas?
Midiatização, (In)Tolerância E Reconhecimento reúne artigos que analisam como a tríade que dá nome ao livro tem se manifestado nos mais variados ambientes midiáticos – em produtos audiovisuais e impressos, em textos e imagens que circulam nas mídias digitais e nas peças publicitárias – e atinge a todas(os), direta ou indiretamente, uma vez que os seres são diversos e plurais.
Além disso, mostram que a intolerância nem sempre é explícita; ao contrário, ela pode até ser negada, porém, a cada vez que é identificada, levantam-se vozes que lutam contra as mais diversas opressões. A obra tem como proposta valorizar a alteridade como postura ética e política, o que permite acreditar na possibilidade de conversão de experiências de desrespeito em força motriz por reconhecimento. Ao mesmo tempo, evidencia as dissonâncias, os contraditórios e, especificamente, como a comunicação lida com tais questões em uma sociedade marcada pela midiatização.
