O Que Fazer Com O Cabelo De Marly?

Os textos de O Que Fazer Com O Cabelo De Marly? se referem à atenção que o autor, o professor Ari Lima, tem dedicado à produção musical dos negros.

Os textos reunidos no livro O Que Fazer Com O Cabelo De Marly? se referem à atenção que o autor, o professor Ari Lima, tem dedicado à produção musical dos negros, particularmente, na cidade de Salvador.

Portanto, a pergunta do título enfatiza, por um lado, um diferencial de gênero na relações raciais, mas, por outro lado, considerando a força simbólica do cabelo crespo do negro, sustenta uma pergunta monumental que o povo negro se fez e se faz após a abolição da escravatura e o advento de uma possível sociedade moderna no Brasil, autodefinida como igualitária e sem restrições étnicas e raciais: o que fazer com o cabelo, mas também o que fazer com o corpo, a consciência, a história e a condição social negra em um país que ao mesmo tempo prega igualdade e pratica submissão simbólica.

A ironia e sutileza do título – O Que Fazer Com O Cabelo De Marly? – é história pessoal e homenagem à sua família e à querida irmã, mas não só. É uma óbvia provocação em torno da racialização do corpo negro, a partir de um elemento expressivo, o cabelo, na sociedade brasileira.

Ari Lima faz uma boa revisão dos trabalhos sobre o funk no Rio de Janeiro e na Bahia, mostrando que ele “serve para muitas coisas”: se tornou um fenômeno de mercado e de mídia; gera solidariedade, hierarquias e dissensões, com a lógica da violência ou não; embora os jovens não assumam uma identidade negra diacrítica, ele revela uma “condição de classe”, pois os seus frequentadores são basicamente jovens suburbanos, pobres, com pouca capacidade de consumo, baixa escolaridade, e pretos ou mestiços.

E serve também para relativizar a ideia da hegemonia planetária da cultura juvenil anglo-saxônica.

Do mesmo modo, Ari Lima, ao tratar dos pagodeiros e timbaleiros, usando dados etnográficos do antropólogo Osmundo Pinho e seus próprios, assinala a dimensão racialista da música, apoiada no primitivismo positivo essencialista, com a admissão de qualidades favoráveis geradas pela própria raça.

O uso do corpo, já “canonizado” pela “mulata globeleza” tem, nesses jovens heterossexuais, uma linguagem, uma capacidade de assimilação e de sedução, além de ser uma “boa” mercadoria.

Mais que nunca, se dissemina entre os jovens negros o triunfo do corpo sobre a razão, plasmado na ideologia do erótico. E, conclui, de forma irônica, dizendo que os funkeiros, pagodeiros e timbaleiros carregam “a Bahia em suas cabeças, mas também em suas genitálias”.

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Portanto, a pergunta do título enfatiza, por um lado, um diferencial de gênero na relações raciais, mas, por outro lado, considerando a força simbólica do cabelo crespo do negro, sustenta uma pergunta monumental que o povo negro se fez e se faz após a abolição da escravatura e o advento de uma possível sociedade moderna no Brasil, autodefinida como igualitária e sem restrições étnicas e raciais: o que fazer com o cabelo, mas também o que fazer com o corpo, a consciência, a história e a condição social negra em um país que ao mesmo tempo prega igualdade e pratica submissão simbólica.

A ironia e sutileza do título – O Que Fazer Com O Cabelo De Marly? – é história pessoal e homenagem à sua família e à querida irmã, mas não só. É uma óbvia provocação em torno da racialização do corpo negro, a partir de um elemento expressivo, o cabelo, na sociedade brasileira.

Ari Lima faz uma boa revisão dos trabalhos sobre o funk no Rio de Janeiro e na Bahia, mostrando que ele “serve para muitas coisas”: se tornou um fenômeno de mercado e de mídia; gera solidariedade, hierarquias e dissensões, com a lógica da violência ou não; embora os jovens não assumam uma identidade negra diacrítica, ele revela uma “condição de classe”, pois os seus frequentadores são basicamente jovens suburbanos, pobres, com pouca capacidade de consumo, baixa escolaridade, e pretos ou mestiços.

E serve também para relativizar a ideia da hegemonia planetária da cultura juvenil anglo-saxônica.

Do mesmo modo, Ari Lima, ao tratar dos pagodeiros e timbaleiros, usando dados etnográficos do antropólogo Osmundo Pinho e seus próprios, assinala a dimensão racialista da música, apoiada no primitivismo positivo essencialista, com a admissão de qualidades favoráveis geradas pela própria raça.

O uso do corpo, já “canonizado” pela “mulata globeleza” tem, nesses jovens heterossexuais, uma linguagem, uma capacidade de assimilação e de sedução, além de ser uma “boa” mercadoria.

Mais que nunca, se dissemina entre os jovens negros o triunfo do corpo sobre a razão, plasmado na ideologia do erótico. E, conclui, de forma irônica, dizendo que os funkeiros, pagodeiros e timbaleiros carregam “a Bahia em suas cabeças, mas também em suas genitálias”.

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