
No final dos anos 1970 e no início dos 1980 deste século, as movimentações operárias do ABC paulista abrem perspectiva para a construção de um pólo democrático-popular que possibilitaria o aprofundamento da democracia brasileira em dimensões jamais vistas.
Se os setores de esquerda aglutinados em torno da vanguarda operária, e que posteriormente formariam o Partido dos Trabalhadores (PT), não conseguem construir essa alternativa, o Partido Comunista Brasileiro, até então hegemônico dentro do movimento operário, também não se mostra capaz de compreender a importância dessas manifestações e tem sua política derrotada no movimento de massas ao insistir em manter prática calcada nos velhos instrumentais analíticos de sua “teoria do Brasil”.
A construção da teoria da revolução em “etapas”, feita pelo Komintern – a Internacional Comunista –, a influência dessa Internacional no PCB e nas orientações da esquerda brasileira, assim como a incapacidade dos socialistas e comunistas de entender as novas dimensões sociopolíticas do Brasil são analisadas em Sinfonia Inacabada que, ao fazer uma exposição abrangente da política dos comunistas, faz também uma análise crítica de toda a esquerda brasileira.
Um trabalho intelectual não é apenas produto de preocupações isoladas e abstratas de um pesquisador . Ao contrário, está sempre relacionado, de uma forma ou de outra, às questões objetivas e subjetivas de quem o realiza, como é o caso deste.
As razões que me levaram a estudar o Partido Comunista Brasileiro não refletem somente o resultado de um longo e profícuo período de Ligação orgânica, durante o qual conheci personagens que se confundem com a própria história do Brasil, como Luís Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Elisa Branco, Salomão Malina, Osvaldo Pacheco, José Maria Crispim, Zuleide Faria de Melo, Oscar Niemeyer, Horácio Macedo, Paulo Cavalcanti, Lindolfo Silva e tantos outros, uma vez que, cada um à sua maneira, de acordo com a intensidade de sua ligação pessoal comigo, acabou influenciando, e muito, minha formação de cientista social e de militante político durante nosso convívio.
Mas foi a dimensão político-cultural desse Partido, construída ao longo de seus 75 anos de vida – assim como as heranças positivas e negativas deixadas na vida nacional -, que me fez decidir sobre o estudo dos elementos histórico-políticos, constitutivos de sua ação e análise da realidade brasileira.
