Antoine De Saint-Exupéry – Terra Dos Homens
Em Terra dos homens, Exupéry relata suas memórias de piloto do correio aéreo francês entre 1926 e 1935, assim como suas primeiras aspirações na profissão e seu convívio com outros pilotos e amigos.
Sem um fio narrativo rígido, definido, Exupéry utiliza passagens emocionantes e dramáticas de sua experiência para dar suas impressões sobre o mundo, que se acostumou a ver do alto.
É, antes de tudo, um livro sobre a morte, a amizade, o heroísmo e a busca de significado.
Mais coisas sobre nós mesmos nos ensina a terra que todos os livros. Porque nos oferece resistência. Ao se medir com um obstáculo o homem aprende a se conhecer; para superá-lo, entretanto, ele precisa de ferramenta.
Uma plaina, uma charrua. O camponês, em sua labuta, vai arrancando lentamente alguns segredos à natureza; e a verdade que ele obtém é universal.
Assim o avião, ferramenta das linhas aéreas, envolve o homem em todos os velhos problemas.
Trago sempre nos olhos a imagem de minha primeira noite de voo, na Argentina, uma noite escura onde apenas cintilavam, como estrelas, pequenas luzes perdidas na planície.
Cada uma dessas luzes marcava, no oceano da escuridão, o milagre de uma consciência. Sob aquele teto alguém lia, ou meditava, ou fazia confidências. Naquela outra casa alguém sondava o espaço ou se consumia em cálculos sobre a nebulosa de Andrômeda.
Mais além seria, talvez, a hora do amor. De longe em longe brilhavam esses fogos no campo. como que pedindo sustento. Até os mais discretos: o do poeta. o do professor, o do carpinteiro. Mas entre essas estrelas vivas, tantas janelas fechadas, tantas estrelas extintas, tantos homens adormecidos…
É preciso a gente tentar se reunir. É preciso a gente fazer um esforço para se comunicar com algumas dessas luzes que brilham, de longe em longe, ao longo da planura.
