
No ano das emergências indígenas, essa compilação de textos sobre o Povo Tuxá de Rodelas/BA, também desenha uma linha do tempo sobre os conflitos e lutas que se arrastam no país impulsionados pelo desinteresse do estado brasileiro em demarcar as terras indígenas, essa publicação possibilita trazer do invisível ao visível, as vozes e as realidades distantes e despercebidas.
Em um país incapaz de resguardar os direitos dos povos originários, as populações indígenas e suas terras reconhecidas e já demarcadas, continuam sofrendo localmente as investida de todos aqueles que desejam explorar seus territórios e suas mentes: garimpeiros, mineradoras, madereiras, grileiros, pecuaristas, missões religiosas, em um pacote desenvolvimentista que tem utilizado da violência para agredir e matar pessoas indígenas em diferentes partes do Brasil.
Aqui no submédio São Francisco, tradicionalmente ocupado por povos indígenas, vivemos um apagamento da memória nativa, sabemos pouco sobre os povos mais antigos, seus nomes, suas trilhas, seus territórios, os “índios do nordeste” foram duplamente afetados, pelo desprezo local nas narrativas indígenas e sua não inserção na versão da história oficial de ocupação desses territórios, e por outro lado também, um certo “desprezo” acadêmico, ao inferir sobre indígenas “misturados” ou “aculturados”, desqualificando de maneira pejorativa a situação desses povos ao tomar de maneira superficial algumas das características múltiplas de suas biografias e trajetórias.
Os povos indígenas do Nordeste até hoje continuam sendo a resistência, foram os primeiros a enfrentar os conflitos de disputa territorial nos principais eixos do projeto de desenvolvimento iniciado com a colonização do Rio São Francisco e, continuam a ser os mais subjugados na identidade indígena, na regularização dos territórios étnicos e no modo de viver.
Essa publicação pretende ser uma potência criativa, trazendo mais linhas para o emaranhado dessa teia de memórias fragmentadas, atualizá-la com a força luminosa de novos olhares e diferentes perspectivas. O Povo Tuxá participa de identidades diversas, sendo simultaneamente: indígenas, ribeirinhos, caatingueiros, vazanteiros, agricultores, pescadores e na atualidade com grande incidência no universo acadêmico, as novas gerações de Tuxá trazem a força do encontro entre o saber tradicional e o científico.
Esse é um fator que perpassa o lugar de centralidade da educação para o Povo Tuxá, e sua pungência quando da expulsão compulsória das ilhas e margens que tradicionalmente ocupavam, na nova aldeia, mais urbanizada, até a autodemarcação de seu território mais sagrado D’zorobabé.
