Pelé E O Complexo De Vira-Latas

A obra tem busca analisar os discursos raciais nas últimas décadas a partir de algumas passagens da trajetória de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

A pesquisa teve como principal objetivo analisar os discursos raciais nas últimas décadas a partir de algumas passagens da trajetória de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Este livro tem como objetivo expor as principais ideias da tese ao se desvendarem os discursos raciais ao longo de cinquenta anos da carreira do maior jogador de futebol de todos os tempos – “o atleta do século”, título que lhe foi concedido – para tentar entender, no palco do futebol brasileiro, os paradoxos desses discursos bem representados numa metáfora construída pelo próprio ex-jogador.

Pelé, desde que despontou como craque do futebol, falou de si mesmo através de uma estratégia em que se divide entre Pelé e Edson. O primeiro é o atleta, o homem público, e o segundo, o homem comum. Essas personas de Pelé são acionadas, de um modo geral, pelos brasileiros, que se veem como que presos num feixe de mensagens contraditórias. Essas mensagens reforçam imagens de um país que ora vive a utopia da vitória do indivíduo sobre o grupo, ora vive a derrota deste indivíduo em face das representações do grupo. Pelé e Edson são assim os dois lados de uma mesma moeda e expressam bem o drama existente na vida social brasileira.

Pelé, apesar de ser conhecido nacionalmente, é um personagem que suscita polêmica no país, pois tudo o que declara pode reverberar contra ele. Tais contradições foram descobertas quando fiz uma pesquisa preliminar para a elaboração do meu projeto de doutorado, em que perguntei a três grupos distintos o que estas pessoas achavam de Pelé. Em geral, quando se queria elogiar, falava-se do Pelé. Para criticá-lo, as pessoas se referiam ao Edson. Este binômio foi prontamente incorporado ao imaginário social brasileiro.

Curioso notar que, como alguns famosos que se tornam conhecidos por seus apelidos, Edson Arantes do Nascimento nunca incorporou sua alcunha mais conhecida ao nome de batismo, como o fez Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo. Tudo se passou então como se Edson e Pelé fossem indivíduos absolutamente diferentes um do outro.

Apesar de ser um personagem fascinante, o feixe de contradições que Pelé suscita é tão complexo que não pode ser explicado por um único viés e resolvido apenas neste trabalho. Ao pensar sobre isto, formulei a hipótese de que uma das interpretações possíveis para os paradoxos que o ex-jogador suscita está relacionada ao fato de que desde a sua ascensão como estrela do futebol até a sua saída do esporte, e mesmo depois de ter assumido outras funções, o ex-jogador é uma espécie de palco pelo qual circulam discursos raciais que convivem, nos últimos cinquenta anos em nossa sociedade.

Pelé foi, ao longo de sua vida, alvo e ao mesmo tempo protagonista do debate sobre o “tipo nacional” necessário e aceitável capaz de superar aquilo que foi definido por Nelson Rodrigues como o “complexo de vira-latas”. As representações construídas a respeito de Pelé coincidiram com muitos projetos sobre como transformar esse tipo nacional para que o Brasil pudesse se tornar uma nação plena, desenvolvida e moderna. O binômio Pelé-Edson é uma metáfora das contradições desses discursos.

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A obra tem busca analisar os discursos raciais nas últimas décadas a partir de algumas passagens da trajetória de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

A pesquisa teve como principal objetivo analisar os discursos raciais nas últimas décadas a partir de algumas passagens da trajetória de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Este livro tem como objetivo expor as principais ideias da tese ao se desvendarem os discursos raciais ao longo de cinquenta anos da carreira do maior jogador de futebol de todos os tempos – “o atleta do século”, título que lhe foi concedido – para tentar entender, no palco do futebol brasileiro, os paradoxos desses discursos bem representados numa metáfora construída pelo próprio ex-jogador.

Pelé, desde que despontou como craque do futebol, falou de si mesmo através de uma estratégia em que se divide entre Pelé e Edson. O primeiro é o atleta, o homem público, e o segundo, o homem comum. Essas personas de Pelé são acionadas, de um modo geral, pelos brasileiros, que se veem como que presos num feixe de mensagens contraditórias. Essas mensagens reforçam imagens de um país que ora vive a utopia da vitória do indivíduo sobre o grupo, ora vive a derrota deste indivíduo em face das representações do grupo. Pelé e Edson são assim os dois lados de uma mesma moeda e expressam bem o drama existente na vida social brasileira.

Pelé, apesar de ser conhecido nacionalmente, é um personagem que suscita polêmica no país, pois tudo o que declara pode reverberar contra ele. Tais contradições foram descobertas quando fiz uma pesquisa preliminar para a elaboração do meu projeto de doutorado, em que perguntei a três grupos distintos o que estas pessoas achavam de Pelé. Em geral, quando se queria elogiar, falava-se do Pelé. Para criticá-lo, as pessoas se referiam ao Edson. Este binômio foi prontamente incorporado ao imaginário social brasileiro.

Curioso notar que, como alguns famosos que se tornam conhecidos por seus apelidos, Edson Arantes do Nascimento nunca incorporou sua alcunha mais conhecida ao nome de batismo, como o fez Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo. Tudo se passou então como se Edson e Pelé fossem indivíduos absolutamente diferentes um do outro.

Apesar de ser um personagem fascinante, o feixe de contradições que Pelé suscita é tão complexo que não pode ser explicado por um único viés e resolvido apenas neste trabalho. Ao pensar sobre isto, formulei a hipótese de que uma das interpretações possíveis para os paradoxos que o ex-jogador suscita está relacionada ao fato de que desde a sua ascensão como estrela do futebol até a sua saída do esporte, e mesmo depois de ter assumido outras funções, o ex-jogador é uma espécie de palco pelo qual circulam discursos raciais que convivem, nos últimos cinquenta anos em nossa sociedade.

Pelé foi, ao longo de sua vida, alvo e ao mesmo tempo protagonista do debate sobre o “tipo nacional” necessário e aceitável capaz de superar aquilo que foi definido por Nelson Rodrigues como o “complexo de vira-latas”. As representações construídas a respeito de Pelé coincidiram com muitos projetos sobre como transformar esse tipo nacional para que o Brasil pudesse se tornar uma nação plena, desenvolvida e moderna. O binômio Pelé-Edson é uma metáfora das contradições desses discursos.

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