Do Desenvolvimento Renegado Ao Desafio Sinocêntrico

Antonio Barros de Castro tinha uma missão em vida: refletir sobre os desafios atuais da economia brasileira. Mesmo seus trabalhos de cunho mais histórico ou teórico, invariavelmente, levantavam questões contemporâneas.

Assim, a leitura de sua obra permite, de certa maneira, colocar em perspectiva a evolução dos principais debates da economia brasileira recente, ao mesmo tempo que oferece uma releitura crítica dessas visões. Castro apreciava, mais do que tudo, a descoberta de um grande artigo, um novo autor, um estudante promissor, uma empresa inovadora ou, simplesmente, um novo conceito. Mas essa paixão pelo novo convivia, harmonicamente, com seu gosto pela história. Analogamente, a alegria que lhe proporcionava a formulação de hipóteses de validade mais geral (ou mesmo de formulações teóricas) era similar à proporcionada pela compreensão do que havia de singular, de específico, em diferentes experiências de desenvolvimento. Como todo missionário, seguia uma mesma rotina dura. Começava pela leitura e recorte de jornais,   seguidos de alguns poucos telefonemas (ainda de manhã bem cedo). Tinha sempre muitas dúvidas, o professor. Em seus telefonemas matutinos, era possível escutá-lo anotando uma definição, repetindo-a em voz alta, para, em seguida, começar a escrever uma série de notas e referências bibliográficas, que iria depois pesquisar. Fazia então um sonoro ponto final. Esse era o sinal de que iria interromper a conversa (às vezes, de forma um pouco abrupta), alegando ter de "começar o trabalho".
Tinha grande apreço pelo rigor dos conceitos; e pouco gosto por preciosismos. Seu compromisso era sempre com o objeto da análise (e não, por exemplo, com um único autor). Jamais se permitia, porém, deixar de ficar a par do que ocorria no mundo, recluso em seu trabalho. Ao contrário, seu trabalho passava por estar atento ao que se passa ao redor do mundo. Frequentemente, o ouvíamos dizer fascinado diante de um grande artigo sobre a atualidade: "É interessantíssimo. Só que agora mudou tudo - tem que repensar tudo!" Pensar e repensar; escrever e reescrever - às vezes pareciam tarefas sem fim. Na véspera de sua morte, Castro disse: "Aconteceu uma desgraça: tive uma ideia nova." Isso significava que, para sua angústia, o artigo que estava escrevendo sobre a China, aqui incorporado, não seria, mais uma vez, finalizado. A angústia é o fardo que todo intelectual carrega, mas é também sua força e o que o move.

  

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Antonio Barros de Castro tinha uma missão em vida: refletir sobre os desafios atuais da economia brasileira. Mesmo seus trabalhos de cunho mais histórico ou teórico, invariavelmente, levantavam questões contemporâneas. Assim, a leitura de sua obra permite, de certa maneira, colocar em perspectiva a evolução dos principais debates da economia brasileira recente, ao mesmo tempo que oferece uma releitura crítica dessas visões. Castro apreciava, mais do que tudo, a descoberta de um grande artigo, um novo autor, um estudante promissor, uma empresa inovadora ou, simplesmente, um novo conceito. Mas essa paixão pelo novo convivia, harmonicamente, com seu gosto pela história. Analogamente, a alegria que lhe proporcionava a formulação de hipóteses de validade mais geral (ou mesmo de formulações teóricas) era similar à proporcionada pela compreensão do que havia de singular, de específico, em diferentes experiências de desenvolvimento. Como todo missionário, seguia uma mesma rotina dura. Começava pela leitura e recorte de jornais,   seguidos de alguns poucos telefonemas (ainda de manhã bem cedo). Tinha sempre muitas dúvidas, o professor. Em seus telefonemas matutinos, era possível escutá-lo anotando uma definição, repetindo-a em voz alta, para, em seguida, começar a escrever uma série de notas e referências bibliográficas, que iria depois pesquisar. Fazia então um sonoro ponto final. Esse era o sinal de que iria interromper a conversa (às vezes, de forma um pouco abrupta), alegando ter de “começar o trabalho”.
Tinha grande apreço pelo rigor dos conceitos; e pouco gosto por preciosismos. Seu compromisso era sempre com o objeto da análise (e não, por exemplo, com um único autor). Jamais se permitia, porém, deixar de ficar a par do que ocorria no mundo, recluso em seu trabalho. Ao contrário, seu trabalho passava por estar atento ao que se passa ao redor do mundo. Frequentemente, o ouvíamos dizer fascinado diante de um grande artigo sobre a atualidade: “É interessantíssimo. Só que agora mudou tudo – tem que repensar tudo!” Pensar e repensar; escrever e reescrever – às vezes pareciam tarefas sem fim. Na véspera de sua morte, Castro disse: “Aconteceu uma desgraça: tive uma ideia nova.” Isso significava que, para sua angústia, o artigo que estava escrevendo sobre a China, aqui incorporado, não seria, mais uma vez, finalizado. A angústia é o fardo que todo intelectual carrega, mas é também sua força e o que o move.

  

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