
Os conflitos do que se recorda e se esquece do passado são o ponto inicial para os estudos das guerras de memórias, que se realizam na lacuna entre o que está na constituição da narrativa oficial e o que está nas memórias individuais, coletivas e até midiáticas que não possuem espaço nessa história, evidente no caso de perspectivas de militares e de militantes que não têm espaço nas histórias sobre o golpe e a ditadura.
As guerras de memórias enfatizam a mídia como campo e território relevante, onde acontecem esses embates, pois as lembranças, os silenciamentos e os esquecimentos integram e sofrem interferências das lógicas da mídia, quando pretendem se beneficiar dos seus valores. Os meios de comunicação, portanto, são primordiais não apenas para publicizar esses embates, mas ainda como fontes documentais.
As guerras de memórias exigem uma observação e descrição de três aspectos nesses conflitos para a constituição da história, isto é, do passado: atores, armas e territórios ou campos de batalha. Os atores compreendem tanto personagens humanos quanto documentos, fontes e demais artefatos tecnológicos; os territórios de batalha representam as temáticas e os vieses das contradições; e as armas são as estratégias dos atores para apresentação dos assuntos, legitimando ou não as perspectivas já existentes, porém, buscando aceitação, reconhecimento e estabilização das suas memórias.
Os campos são os locais onde acontecem os embates que visam à inclusão na narrativa oficial, complementando-a ou até mesmo a negando; neste livro, os campos são os sites jornalísticos.
A intenção é rastrear esses embates das memórias em novas articulações e configurações do jornalismo e das memórias em momentos de tensão, para a consolidação da história. Os produtos midiáticos são investigados como legitimadores das perspectivas defendidas, seja para ratificar ou mesmo corrigir alguns acontecimentos passados, seja como arquivos e documentos históricos, uma vez que estão em lugares privilegiados para constituição da narrativa oficial.
