Alexandre Guerra & Outros – Poder E Corrupção No Capitalismo
De forma objetiva, o livro Poder E Corrupção No Capitalismo mostra, com base em dados e em experiências comparadas, que o fenômeno em sua forma sistêmica não é prática isolada deste ou daquele governo, mas, muito mais, inevitável consequência de fluxos descontrolados de ativos na economia globalizada, reforçada pela fragilização de governos no modelo neoliberal de gestão econômica.
No caso específico do Brasil, o modelo teve impacto gravíssimo na cultura empresarial, decorrente do abandono da dinâmica de desenvolvimento econômico impulsionado pelo Estado e da concentração do esforço governamental, na década de 90 do século passado, na estabilização.
Empresários passaram a investir menos na expansão de capacidades e a buscarem o ganho de curto prazo, voltado à especulação financeira. Com isso, criou-se o ambiente propício a práticas de risco, incluída, nestas, a corrupção.
Em especial, o setor de grandes obras, construtoras e empreiteiras, sofreu desse impacto. Estabelecidas antes de meados do século passado, com a transformação da sociedade brasileira agrária em sociedade urbana, elas se dedicaram a grandes projetos de infraestrutura comandadas por um Estado intervencionista.
A partir do refluxo do desenvolvimentismo na década de 1990, a disputa por contratos tornou-se mais dura, da mesma forma que a busca por ganhos de curto prazo.
Essa mistura teve efeito evidentes sobre as práticas empresariais, tendentes a assimilar o convívio politizado com o setor público.
O sistema político brasileiro favoreceu elevado grau de promiscuidade na relação entre os setores público e privado. Com custo de campanhas eleitorais altíssimos, as empresas têm sido a principal fonte de seu custeio.
Estabeleceu-se, assim, o ambiente favorável às operações de risco na contratação pública, em que atores políticos financiados por construtoras e empreiteiras viam com simpatia seus pleitos na participação em obras de grande vulto.
A vinculação do financiamento a vantagens na contratação foi consequência natural dessa relação de procura e demanda. A presente obra mostra, sem rodeios, o quanto é artificial o argumento moralista da degradação de costumes e da necessidade de punição expiatória de atores desse cenário.
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