
No livro que reinterpreta criticamente os processos de democratização cultural da América Latina das duas últimas décadas do século XX, cuja edição brasileira recebeu o título de Aprendendo a democracia na América Latina: atores sociais e mudança cultural, seu autor Paulo Krischke percebe que as principais transformações sociais e políticas ocorridas no continente denotam orientações de indivíduos e grupos sociais das bases de suas sociedades.
Poucos analistas políticos têm a preocupação de avaliar estas transformações, presos que estão à avaliação institucional e de desempenho de governos, processos legislativos e judiciários. Paulo Krischke destaca o esforço dos atores sociais para alcançar o seu reconhecimento como cidadãos plenos de direitos e atores competentes na esfera pública:
Eles fracassam frequentemente e sofrem duras perdas e derrotas, frente a opositores privilegiados e poderosos. Porém, insistem em persistir no seu desafio à dominação conservadora, através de uma contínua reelaboração comunicativa e reflexiva de suas próprias tradições, num processo que está deslegitimando progressivamente a cultura de submissão ao controle das oligarquias.
Esta crítica de Paulo Krischke nos serve para explicar, por exemplo, o processo político democrático brasileiro com suas reivindicações nas ruas, principalmente as manifestações ocorridas entre 17 e 20 de junho de 2013. Com base no seu aporte empírico-analítico pode-se afirmar que estas manifestações de rua foram vitoriosas, principalmente porque seus atores sociais souberam delimitar, através de uma sofisticada inovação estética, os contornos da estrutura comunicacional da esfera pública para a discussão dos processos democráticos no Brasil.
Democracia No Brasil é um livro sobre uma democracia com diversos atores sociais poderosos, protagonizando seus interesses dentro de uma esfera pública que aos poucos deixa de ser identificada única e exclusivamente como afetada pelos vícios do autoritarismo das oligarquias. O Brasil mudou, mas não foram as suas instituições que mudaram significativamente.
O que mudou foi a maneira de a sociedade civil fazer política, organizando-se livre, estratégica e comunicacionalmente. Por isso, este livro revisa os fundamentos da política moderna brasileira, em especial utilizando-se da maneira habermasiana de entender a centralidade da comunicação na democracia.











