Aderbhal Oliveira Figueiredo – Tenente Galinha: Caçador De Homens
Boa parte da literatura brasileira de ontem e de hoje jaz dispersa, sob a forma de reportagem, nas páginas dos jornais.
Em tempo João do Rio recolheu em livro as que publicou sobre a Alma encantadora das ruas e as Religiões no Rio, cujas sucessivas edições repetem, hoje, o sucesso de ontem, quando surgiram no jornal.
Porque em tudo. nas gazetas, é episódio de um dia, leitura de minuto – A grande reportagem, sendo do momento é de sempre, pois que ao mesmo tempo que retrata faz a história de um acontecimento ou de uma situação. Aquelas, de João do Rio, têm esse mérito, e por isso têm servido de subsídio importante a historiadores e sociólogos.
Estas, de Adherbal Figueiredo, tenho a impressão que estarão no mesmo caso, isto sem falar no que apresentam de interessante, de movimento, de pitoresco e de emocionante para o leitor comum, que busca na leitura apenas divertimento para o espírito.
Quem falou no banditismo que, pelos fins do século passado e começos deste, imperava à larga, em toda a hinterlândia paulista?
Preocupado em só mostrar as grandezas do café, quase toda a literatura de São Paulo tem esquecido os episódios tristes e dolorosos que marcaram uma época da existência interiorana, com fortes reflexos no seu estilo de vida, que foi o ciclo dos bandoleiros, uns sucedendo-se a outros, no pânico, na violência, nas atrocidades que infligiam às abandonadas populações do interior.
Adherbal Figueiredo, na série de reportagem que compõe este livro, dá-nos um filme dos mais movimentados do que foi aquele tempo, e filme tanto mais curioso porque o realizou não do ângulo dos malfeitores, mas do ângulo do policial que os combatia e que não conseguiu permacer indene aos vícios e crimes dos seus perseguidos, que em muitas façanhas imitou.
Assim, o tenente Galinha, chefe da patrulha volante da Força Pública que dava caça aos criminosos, foi ele mesmo e tantas vezes, um criminoso também, não contra os bandidos, mas contra aqueles a que tinha per obrigação proteger.
Nem por isso nem por ter sofrido a influência dos inimigos, que não poupava, mas que até igualou e algumas vezes superou, em requintes de perversidade, o tenente Galinha deixou de prestar excelentes serviços à coletividade, e não fora ele, a extinção desses cangaceiros do sul ter-se-ia prolongado muito além do que era lícito permitir à nossa civilização.
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