
O racismo religioso sofrido pelas crianças e jovens iniciados nas religiões de matriz africana, particularmente nos espaços de educação formal, é a motivação para este autor, que tem sua história de vida vinculada, por um lado, a crianças e jovens no espaço de educação formal, como professor, e, por outro lado, a crianças e jovens de Terreiro, espaço que frequenta1 por sua opção religiosa, ocupando a posição de Ogã.
Portanto, em primeiro lugar, pede-se licença aos iniciados mais velhos e apresenta-se gratidão aos que contribuíram diretamente para essa obra, especialmente aos Babalorixás Babá Pecê, do Terreiro Ilê Axé Oxumarê, localizado no município de Salvador/Bahia, e Pai Gildo, do Terreiro Ilê Axé Odara, em Itabuna/Bahia, que cederam os espaços sagrados para realização da pesquisa. Gratidão às crianças e jovens destas casa sagradas, principais protagonistas da pesquisa e, portanto, desta obra.
O racismo religioso se constitui em violação dos direitos do cidadão e merece análise pois, embora o Estado brasileiro seja laico desde 1891, conforme estabelece a primeira constituição republicana do país, reafirmado na constituição cidadã, atualmente em vigor, a liberdade religiosa não é uma realidade. Na verdade, as religiões de matriz africana e seus membros continuam a ser injustamente discriminados, afrontando o princípio da igualdade, que se constitui em um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Atualmente, no Brasil, as ações de racismo religioso, principalmente direcionadas aos povos tradicionais de matriz africana, têm se ampliado consideravelmente, ocorrendo invasões e destruição de muitos terreiros de Candomblé e centros de umbanda; expulsão de religiosos de matriz africana das suas casas e dos seus espaços sagrados e perseguição de religiosos nas ruas quando são identificados como praticantes dos cultos de matriz africana, com seus trajes, suas guias e seus ojás na cabeça.
Essas ações ocorrem também, com frequência, nos espaços escolares, atingindo especialmente crianças e jovens de matriz africana, gerando um desconforto a estes que, na maioria das vezes, se veem obrigados a esconderem sua identidade religiosa para continuarem frequentando a escola, ou mesmo abandonam os estudos por não suportarem a ação racista e intolerante sobre eles.
Diante da constatação de que, de modo geral, não ocorreram mudanças no currículo das escolas após a implantação da Lei 10.639/2003, esta temática foi objeto de pesquisa pelo autor, objetivando analisar a diversidade da sociedade, procurando, por meio de um modelo de educação fundamentado nos princípios do multiculturalismo crítico, contribuir para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e igualitária, onde os espaços de educação formal não mais tratem as crianças de religiões de matriz africana de forma preconceituosa e racista.
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