Publicado em 1943, A dama do lago foi o quarto romance de Raymond Chandler, sucedendo a O sono eterno (1939), Adeus, minha querida (1940) e A janela alta (1942). O livro mostra aos leitores das aventuras do detetive Philip Marlowe

uma galeria familiar que inclui mulheres sedutoras, homens durões e atormentados, policiais desonestos e arrogantes, policiais honestos que tentam fazer o melhor que podem num meio moralmente corrompido. Ambientado na Califórnia, como os livros anteriores de Chandler,­ ele no seu terço inicial se afasta das cidades de Los Angeles e de Santa Monica (a que Chandler dá o nome fictício de “Bay City”) e sobe as montanhas de San Bernardino, uma região de lagos e florestas, onde Chandler e sua esposa Cissy moraram algum tempo e onde parte do livro foi escrita.
A dama do lago, como outros romances do autor, “canibalizou” (o termo que ele próprio empregava) contos que ele havia publicado antes em revistas. Neste caso, as histórias que serviram de base (com outros personagens e situações ligeiramente diferentes) foram “Bay City Blues” (Dime Detective Magazine, junho de 1938; “The Lady in the Lake” (Dime Detective Magazine, janeiro de 1939; e “No Crime in the Mountains” (Detective Story Magazine, setembro de 1941).
Diferentemente de outros livros de Chandler, em que a investigação se arrasta por semanas ou até por meses, A dama do lago transcorre em cerca de 48 horas de ação quase ininterrupta, em que Marlowe mal tem direito a umas poucas horas de sono. Do momento em que ele entra no escritório da empresa de Derace Kingsley até o amanhecer da tragédia final, uma morte é descoberta, dois assassinatos são cometidos, dois crimes anteriores são solucionados, Marlowe leva uns sopapos da polícia e passa algumas horas numa cela — como em geral acontece. É um enredo (e uma dinâmica narrativa) bem à feição das noveletas dos pulp magazines onde Chandler afiou a espada antes de estrear no romance.
Este livro surgiu num momento peculiar na vida do autor, quando ele estava, por assim dizer, tocando o fundo do poço pela segunda vez. A primeira foi em 1932, quando foi demitido por alcoolismo da empresa de petróleo onde trabalhava, o que quase acabou com seu casamento. Ele reduziu drasticamente seu padrão de vida, para consumir o mais devagar possível o pé-de-meia que tinha economizado; e recorreu à pulp fiction para se manter.