A presença explicitamente intervencionista do Estado na economia açucareira ocorreu durante 60 anos aproximadamente (1930-1990). As ações e as regras dele emanadas marcaram, de modo bastante expressivo, as mudanças no sistema de poder e dominação ao qual os diversos agentes sociais estavam integrados.
Reordenando o jogo de forças, titulares das instituições estatais, através de políticas e programas destinados a controlar ou fomentar a produção de açúcar e álcool, tornaram-se um dos principais agentes dessa atividade econômica. Contudo, a compreensão das razões que os levaram a tal postura e das formas como esta intervenção se deu pressupõe a análise das continuidades e das descontinuidades nas relações sociais em que os produtores se encontravam diferentemente engajados.
Os estudos sobre as mudanças sociais na economia açucareira tendem a delimitar a intervenção do Estado como um fator externo desencadeador das alterações nas condições de participação dos agentes dessa produção. Supõem que o Estado ou fatores externos detenham o poder de alterar de modo relativamente uniforme a todos os produtores, independentemente da posição social que ocupam ou do conjunto específico de relações que estejam vivendo.
Tais estudos tomam como provável que decretos e normas formais sejam por si sós capazes de alterar relações e que os agentes sociais não participem, ainda que indiretamente, de sua elaboração. Admitem, também, como certo que eles os absorvam uniformemente ou sem resistências, reinvenções e recriações.
Em Os Fornecedores De Cana E O Estado Intervencionista, Delma Pessanha Neves apresenta o processo de construção social e política dos fornecedores de cana, que se deu em razão do investimento de tais agentes na constituição da mediação interventora do Estado e da interdependência entre agricultura e indústria. A análise dos dados é construída a partir de pesquisa qualitativa associada à pesquisa quantitativa.
Os Fornecedores De Cana E O Estado Intervencionista é de grande interesse para os pesquisadores e os agentes mediadores das atividades agrícolas, em especial aqueles vinculados às agências do Estado. Pela explicitação da orientação metodológica e pela análise dos problemas com os quais comumente os antropólogos se defrontam no trabalho de campo, o texto é inovador na abordagem da disciplina, sendo também recomendado para outros cientistas sociais.
