
Vivências Do Cuidado Na Rua versa sobre um encontro entre a rua e a universidade, especificamente, entre o Consultório na Rua da cidade de Campinas e o Coletivo de Pesquisa Conexões, do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, cotejado por encontros semelhantes no Rio de Janeiro e em São Luís, no Maranhão.
Retenho da leitura o tanto que encontros como esses podem transformar concepções de extensão universitária, de rua, de cuidado, de ação política.
Não há, em nenhum dos textos de Vivências Do Cuidado Na Rua, a ideia unidirecional de que extensão universitária seja levar o conhecimento produzido na universidade para a população em situação de rua, ou para as equipes que atuam junto a ela.
Depreende-se, de outra via, que saberes são construídos nas relações com as ruas, com as pessoas que nelas circulam e com a vida que nela se produz. E aí, outras palavras são necessárias para dar conta do que se passa.
A experiência que os autores de Campinas nomeiam de extensionar-se supõe, ao mesmo tempo, abertura ao mundo e imersão nele, com a clareza de que é indigno falar pelo outro.
Do Rio de Janeiro, a ideia do pesquisador in-mundo tenta descrever um sujeito atuante no mundo, que suja e se suja com os mundos alheios. Tamanha intensidade não é coisa para uma única pessoa.
Destaca-se, nesse sentido, a produção coletiva. Os capítulos são assinados a muitas mãos, interseccionando gênero, raça, faixa etária, classe social, preferências intelectuais e afetos políticos dos pesquisadores.
Nesse passo, a vida de quem está nas ruas também já se apresenta outra. Não é só falta, desolação, viração, nem tão somente uma sobrevivência em meio a tantas forças de eliminação.
Os encontros aqui narrados produzem territorializações e desterritorializações, tornam a rua exercício de invenção em ato: ela vira palco, setting de filmagem, roda, chão.











