
Tudo começou com um panfleto para uma fábrica de iogurte. Para atender família Casares. Para atender a encomenda, os amigos se reuniram em uma casa de campo para escrever e começaram uma parceria que deu origem não apenas a livros, mas a dois autores.
Bustos é o sobrenome de um bisavô de Borges, Domecq, de um bisavô de Bioy. De fato, mais do que pais de dom Honorio, Bioy e Borges parecem ser seus filhos, quando não seus netos ou bisnetos, respeitosos e submissos. A criatura rebelde toma o poder e passa a dominar seus criadores.
Apenas nascido, o “Bicho Feio” monopoliza abruptamente a palavra e encontra sua voz — uma voz enorme, excessiva, inconfundível. Esta voz não é a soma de duas vozes (Bustos Domecq não é “Biorges”, esta superposição vagamente obscena de dois retratos fotográficos seus), mas sua transcendência, sua transmutação, nascida de um misterioso entre dois, que “só existe quando estamos os dois conversando”…
Em janeiro e março de 1942 são publicados na Sur os dois primeiros frutos do terceiro homem, “As doze figuras do mundo” e “As noites de Goliadkin”, e em dezembro do mesmo ano sai Seis Problemas Para Dom Isidro Parodi, pela editora Sur, que acrescenta a estes dois textos quatro problemas inéditos, sob a assinatura de H. Bustos Domecq.
Em Seis Problemas Para Dom Isidro Parodi | Duas Fantasias Memoráveis, primeiro livro atribuído a Bustos Domecq, nos apresenta Don Isidro Parodi, um astuto investigador encarcerado.
A inteligência e habilidade do detetive são tais que Don Isidro é procurado pelos clientes em sua cela e ele é capaz de solucionar os casos a partir de depoimentos e pistas recolhidas em seus interrogatórios.
Embora Seis Problemas Para Dom Isidro Parodi sejam contos independentes, o conjunto revela o humor de Domecq e sua maestria na construção de tramas policiais. As histórias de Parodi figuram na lista “Queen’s Quorum” dos 125 melhores livros policiais de todos os tempos.
As Duas Fantasias Memoráveis – ‘A testemunha’ e ‘O sinal’ – são relatos fantásticos. Nestes textos o “terceiro homem” faz referências a outro gênero literário caro aos amigos que criaram Domecq.
O escritor argentino Alan Pauls afirma que “amparados por um pseudônimo Borges e Bioy lançaram mão de elementos que não poderiam nunca figurar em suas obras individuais”, como “o uso brutal da cultura popular, atrevimento e paixão rasteiras”.











