Sob O Nome De Real

Os cotidianos mostram a indissociabilidade entre real e imaginário que o jornalismo, deles nutridos, combate. Isso se explicita nos ideais jornalísticos de clareza, exatidão, precisão, isenção, objetividade, imparcialidade; na sua convicção de que os fatos são uma coisa e as interpretações, outra; na separação entre a vida e o ser que a vive.

Trata-se de um iconoclasmo que tenta se desvencilhar da imagem para se furtar à polissemia que a acompanha e à complexidade do mundo que ela indicia. Mas o imaginário é incontornável, sustentando, sob o nome de real, os alicerces até do texto jornalístico mais esquemático. Só que a imagem, aí, perde sua pregnância simbólica, degrada da que fica em dados burocráticos, atraiçoando o papel do jornalismo de relacionador de significados, esvaziando seu lugar de encruzilhada de saberes.

Inicio Sob O Nome De Real sem saber se vou conseguir demonstrá-lo argumentativamente ou mostrá-lo poeticamente. Nesta tensão entre demonstrar e mostrar já reside um dos desafios. Se vou falar da possibilidade e necessidade de o jornalismo superar a dicotomia real/imaginário, como fazer para não restabelecer no meu próprio texto essa separação?

O imaginário abarca o real, contendo também elementos imateriais, como arquétipos, mitologias, simbolismos, enfim: além de ser constituído pelo capital pensado do Homo sapiens, o imaginário guarda, também, o nosso capital não pensado, que não se deixa capturar pela argumentação racional, sob pena de se destruir. O imaginário é dinâmico. Não esqueço que descrevê-lo discursivamente é, de certa forma, imobilizá-lo, e pode racionalizá-lo. Para amenizar isso, opto pela mostração mais do que pela demonstração.

Conjecturo que a dicotomia real/imaginário seja o desaguamento do iconoclasmo jornalístico: horror à imagem (apesar de sermos, aparentemente, uma civilização grande produtora de imagens), ao corpo, ao afeto, à proximidade. No fazer jornalístico, esse medo vem travestido de amor à verdade, de fidelidade aos fatos, que pede distanciamento das emoções e do que nasce delas e com elas — as imagens.

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Os cotidianos mostram a indissociabilidade entre real e imaginário que o jornalismo, deles nutridos, combate. Isso se explicita nos ideais jornalísticos de clareza, exatidão, precisão, isenção, objetividade, imparcialidade; na sua convicção de que os fatos são uma coisa e as interpretações, outra; na separação entre a vida e o ser que a vive.

Trata-se de um iconoclasmo que tenta se desvencilhar da imagem para se furtar à polissemia que a acompanha e à complexidade do mundo que ela indicia. Mas o imaginário é incontornável, sustentando, sob o nome de real, os alicerces até do texto jornalístico mais esquemático. Só que a imagem, aí, perde sua pregnância simbólica, degrada da que fica em dados burocráticos, atraiçoando o papel do jornalismo de relacionador de significados, esvaziando seu lugar de encruzilhada de saberes.

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O imaginário abarca o real, contendo também elementos imateriais, como arquétipos, mitologias, simbolismos, enfim: além de ser constituído pelo capital pensado do Homo sapiens, o imaginário guarda, também, o nosso capital não pensado, que não se deixa capturar pela argumentação racional, sob pena de se destruir. O imaginário é dinâmico. Não esqueço que descrevê-lo discursivamente é, de certa forma, imobilizá-lo, e pode racionalizá-lo. Para amenizar isso, opto pela mostração mais do que pela demonstração.

Conjecturo que a dicotomia real/imaginário seja o desaguamento do iconoclasmo jornalístico: horror à imagem (apesar de sermos, aparentemente, uma civilização grande produtora de imagens), ao corpo, ao afeto, à proximidade. No fazer jornalístico, esse medo vem travestido de amor à verdade, de fidelidade aos fatos, que pede distanciamento das emoções e do que nasce delas e com elas — as imagens.

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