Ligado profundamente à história de sua sociedade Ba Ka Khosa reatualiza na obra Ualalapi a figura de um mito moçambicano num presente sempre em interação com o passado e o futuro.
O que parece estar em foco para Khosa nessa obra é o jogo entre construção identitária nacional e seu questionamento, suas consequências e idealizações como “patrimônio herdado do passado”, evidenciando as formas de resistência e violência que caracterizam esse passado.
Vemos, portanto, que Khosa cumpre aqui o preceito de Inocência Mata de que, “O que importa hoje estudar são os efeitos das relações de poder, seja entre entidades diferentes externas, seja entre entidades que participam do mesmo espaço interno”.
Assim, o que faz Khosa é um diálogo entre o discurso histórico enquanto representante oficial da verdade dos fatos e a ficção questionando a impossibilidade de acesso a uma verdade única, através da incorporação de motivos míticos.
A obra é um conjunto de seis contos, aparentemente independentes, porém interdependentes quanto ao elo que constitui a releitura da personagem do imperador nguni – Ngungunhane, enquanto representação de poder, da etnia dos nguni, vindo do sul da África, que invadiu e colonizou os tsongas, no sul de Moçambique, em confronto com o exército português no fim do século XIX.
Cada conto nos abre uma perspectiva diferente sob a qual se podem visualizar os feitos e o caráter desse imperador que vai se construindo ao longo das narrativas num conjunto do qual se entrevê acontecimentos históricos até à captura de Ngungunhane, que se dá no último conto.
Cada uma das narrativas é precedida de um pequeno texto italizado designado Fragmentos do fim com o qual mantém diálogo numa desconstrução/reconstrução de Histórias em Estórias.
Opiniões favoráveis e contrárias ao hosi (nomeação em língua tsonga de rei) criam uma linha de alteridade no discurso histórico da obra que leva o leitor a questionar as “verdades” moçambicanas, a começar pelo seu título Ualalapi que já denota uma falsa referência ao leitor, uma vez que este é o nome de um guerreiro nguni a quem é destinada a missão de matar Mafemame, irmão de Mudungazi (depois chamado Ngungunhane – Gungunhana). Este guerreiro dá o título ao conjunto de relato, porém sua passagem se dá apenas no primeiro conto.
Ualalapi
- Literatura Estrangeira
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