A Orgia Perpétua: Flaubert E Madame Bovary

Há, de um lado, a impressão que Emma Bovary deixa no leitor que se aproxima dela pela primeira (segunda, décima) vez: a simpatia, a indiferença, o tédio. De outro, o que constitui o próprio romance, prescindindo do efeito de sua leitura

: a história que é, as fontes de que se vale, a maneira como se faz tempo e linguagem. E, finalmente, o que o romance significa, não em relação a quem o lê, nem como objeto soberano, mas sim do ponto de vista dos romances escritos antes ou depois. Desenvolver qualquer uma dessas opções é eleger uma forma de crítica. A primeira, individual e subjetiva, predominou no passado, e seus defensores a chamam de clássica; seus detratores, de impressionista. A segunda, moderna, pretende ser científica, analisar uma obra de maneira objetiva, em função de regras universais, muito embora, é claro, a índole das regras varie conforme o crítico (psicanálise, marxismo, estilística, estruturalismos, combinações). A terceira tem a ver mais com a história da literatura do que com a crítica propriamente dita.
Na verdade, os críticos de todos os tempos utilizaram as três perspectivas em concomitância. A diferença está em que cada época, pessoa ou tendência enfatiza, concentra a atenção, em uma delas. O antigo, que julgava a partir de sua sensibilidade, acreditava personificar um modelo de valor e que suas opiniões tinham, portanto, validade universal. O contemporâneo sabe que sua razão e conhecimento são estimulados e orientados — mesmo que apenas na escolha do tema de seu estudo — por sua subjetividade, pela ferida causada em seu espírito por essa obra específica. E, de outro lado, impressionistas e científicos procuraram sempre instalar uma obra em sua tradição, assinalando o que ela significa em relação ao passado e ao futuro do próprio gênero.
Neste ensaio, me proponho a realizar os três intentos em separado e por isso o dividi em três partes. A primeira é um embate entre mim e Emma Bovary, no qual, evidentemente, falo mais de mim que dela. Na segunda, pretendo me concentrar exclusivamente em Madame Bovary e resumir com uma aparente objetividade sua gestação e parto, o que é e como é enquanto romance. Por fim, na terceira, tento situá-lo, razão por que falo sobretudo de outros romances, na medida em que a existência deles foi possibilitada e enriquecida graças à sua.

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A Orgia Perpétua: Flaubert E Madame Bovary

Há, de um lado, a impressão que Emma Bovary deixa no leitor que se aproxima dela pela primeira (segunda, décima) vez: a simpatia, a indiferença, o tédio. De outro, o que constitui o próprio romance, prescindindo do efeito de sua leitura: a história que é, as fontes de que se vale, a maneira como se faz tempo e linguagem. E, finalmente, o que o romance significa, não em relação a quem o lê, nem como objeto soberano, mas sim do ponto de vista dos romances escritos antes ou depois. Desenvolver qualquer uma dessas opções é eleger uma forma de crítica. A primeira, individual e subjetiva, predominou no passado, e seus defensores a chamam de clássica; seus detratores, de impressionista. A segunda, moderna, pretende ser científica, analisar uma obra de maneira objetiva, em função de regras universais, muito embora, é claro, a índole das regras varie conforme o crítico (psicanálise, marxismo, estilística, estruturalismos, combinações). A terceira tem a ver mais com a história da literatura do que com a crítica propriamente dita.
Na verdade, os críticos de todos os tempos utilizaram as três perspectivas em concomitância. A diferença está em que cada época, pessoa ou tendência enfatiza, concentra a atenção, em uma delas. O antigo, que julgava a partir de sua sensibilidade, acreditava personificar um modelo de valor e que suas opiniões tinham, portanto, validade universal. O contemporâneo sabe que sua razão e conhecimento são estimulados e orientados — mesmo que apenas na escolha do tema de seu estudo — por sua subjetividade, pela ferida causada em seu espírito por essa obra específica. E, de outro lado, impressionistas e científicos procuraram sempre instalar uma obra em sua tradição, assinalando o que ela significa em relação ao passado e ao futuro do próprio gênero.
Neste ensaio, me proponho a realizar os três intentos em separado e por isso o dividi em três partes. A primeira é um embate entre mim e Emma Bovary, no qual, evidentemente, falo mais de mim que dela. Na segunda, pretendo me concentrar exclusivamente em Madame Bovary e resumir com uma aparente objetividade sua gestação e parto, o que é e como é enquanto romance. Por fim, na terceira, tento situá-lo, razão por que falo sobretudo de outros romances, na medida em que a existência deles foi possibilitada e enriquecida graças à sua.

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