Creio que tinha 15 anos quando li, pela primeira vez, O Manifesto do Partido Comunista. A irmã de minha mãe, Cristina Luca, de quem falo neste volume, traduzira o livro de Ilya Ehrenburg, A vida de Gracchus Babeuf, e tinha na biblioteca a famosa edição Auguste Cornu dos escritos de Marx e Engels. Também Cristina escreveu o posfácio do romance de Galina Serebreakova, A juventude de Marx.
Mais tarde eu haveria de descobrir que Galina Serebreakova fora a primeira esposa de Grigori Sokolnikov, depois de Pavel Serebreakov. Ambos faziam parte do círculo de amigos próximos de Lênin, eram velhos bolcheviques, foram condenados à morte e executados no tempo do Grande Terror, em processos-espetáculo de Moscou.
A própria Serebreakova foi condenada e passou cerca de 15 anos no Gulag. Para o casarão da família Serebreakov fiquei sabendo da biografia escrita por Arkadi Vaksberg – mudou-se Andrei Ianurievici Vishinski, o procurador de Stálin, o que pedira o fuzilamento dos “cães raivosos”. Galina permaneceu fiel ao credo comunista e, segundo sei, atacou virulentamente Soljenitsin. Tínhamos na biblioteca da família uma trilogia de um romancista holandês, creio, Theun de Vries, com o título Um espectro vagueia pela Europa…
Eu provinha de uma família de intelectuais revolucionários. Meus pais tinham lutado na Espanha no quadro das Brigadas Internacionais (meu pai como soldado; minha mãe, como enfermeira). Crescera, portanto, com os mitos da esquerda comunista como lendas de meu meio de formação.
Eu as absorvera, cria nelas. Veio então a Primavera de Praga, fiquei entusiasmado, como tantos outros, pela promessa de “um socialismo com face humana”, pela idéia de que o totalitarismo não é eterno, que pode existir liberdade e mesmo num regime como o da Romênia.
Seguiu-se a invasão da Tchecoslováquia, em agosto de 1968, a restauração da ordem paralisante do despotismo ideológico de tipo soviético, a “normalização” imposta pelo império moscovita, as represálias contra os que tinham apoiado o projeto de Alexander Dubček de democratização, o novo gelo, a auto-imolação do estudante Ian Palach em 1969, o emprego por Nicolae Ceauşescu do perigo (de fato imaginário, de um espantalho nacional) de uma intervenção soviética, para intensificar seu obsceno culto da personalidade, a progressiva fascização do comunismo romeno. Eu já não tinha como crer na ilusão comunista.
Do Comunismo
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