O Circuito Dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo E O Fim Do Indivíduo

Este livro é construído por cinco linhas de força, algumas mais desenvolvidas, outras ainda latentes. A primeira delas diz respeito à tentativa de desenvolver de forma mais sistemática a articulação entre afetos e corpo político.


Uma articulação enunciada pela filosofia política moderna ao menos desde Hobbes. Pois seria difícil não partir de sua afirmação canônica: “de todas as paixões, a que menos faz os homens tender a violar as leis é o medo. Mais: excetuando algumas naturezas generosas, é a única coisa que leva os homens a respeitá-las”.
Nessa perspectiva, compreender sociedades como circuitos de afetos implicaria partir dos modos de gestão social do medo, partir de sua produção e circulação enquanto estratégia fundamental de aquiescência à norma. Pois, se, de todas as paixões, a que sustenta mais eficazmente o respeito às leis é o medo, então deveríamos começar por nos perguntar como ele é produzido, como ele é continuamente mobilizado.
De forma mais precisa, como se produz a transformação do medo contínuo da morte violenta, da despossessão dos bens, da invasão da privacidade, do desrespeito à integridade de meus predicados em motor de coesão social.
Tal perspectiva hobbesiana não tem interesse meramente histórico. É bem provável que ela descreva, de forma bastante precisa, o modelo hegemônico de circuito de afetos próprio a nossas sociedades de democracia liberal, com suas regressões securitárias e identitárias periódicas (mesmo que Hobbes não seja exatamente um teórico do liberalismo, haja vista sua maneira de colocar os interesses da soberania acima da defesa da propriedade dos indivíduos).
Pois partir da premissa hobbesiana nos obriga a não apenas colocar o medo como afeto intransponível, disposição sempre latente na vida social. Trata-se, principalmente e de maneira silenciosa, de definir a figura do indivíduo defensor de sua privacidade e integridade como horizonte, ao mesmo tempo último e fundador, dos vínculos sociais.
A defesa da integridade individual não significa, no entanto, apenas a elevação da conservação da vida à condição última de legitimação do poder. “Integridade” significa aqui também a soma dos predicados que possuo e que determinam minha individualidade, os predicados dos quais sou proprietário.
Assim, a tese principal é que o medo como afeto político central é indissociável da compreensão do indivíduo, com seus sistemas de interesses e suas fronteiras a serem continuamente defendidas, como fundamento para os processos de reconhecimento.

 

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Este livro é construído por cinco linhas de força, algumas mais desenvolvidas, outras ainda latentes. A primeira delas diz respeito à tentativa de desenvolver de forma mais sistemática a articulação entre afetos e corpo político.
Uma articulação enunciada pela filosofia política moderna ao menos desde Hobbes. Pois seria difícil não partir de sua afirmação canônica: “de todas as paixões, a que menos faz os homens tender a violar as leis é o medo. Mais: excetuando algumas naturezas generosas, é a única coisa que leva os homens a respeitá-las”.
Nessa perspectiva, compreender sociedades como circuitos de afetos implicaria partir dos modos de gestão social do medo, partir de sua produção e circulação enquanto estratégia fundamental de aquiescência à norma. Pois, se, de todas as paixões, a que sustenta mais eficazmente o respeito às leis é o medo, então deveríamos começar por nos perguntar como ele é produzido, como ele é continuamente mobilizado.
De forma mais precisa, como se produz a transformação do medo contínuo da morte violenta, da despossessão dos bens, da invasão da privacidade, do desrespeito à integridade de meus predicados em motor de coesão social.
Tal perspectiva hobbesiana não tem interesse meramente histórico. É bem provável que ela descreva, de forma bastante precisa, o modelo hegemônico de circuito de afetos próprio a nossas sociedades de democracia liberal, com suas regressões securitárias e identitárias periódicas (mesmo que Hobbes não seja exatamente um teórico do liberalismo, haja vista sua maneira de colocar os interesses da soberania acima da defesa da propriedade dos indivíduos).
Pois partir da premissa hobbesiana nos obriga a não apenas colocar o medo como afeto intransponível, disposição sempre latente na vida social. Trata-se, principalmente e de maneira silenciosa, de definir a figura do indivíduo defensor de sua privacidade e integridade como horizonte, ao mesmo tempo último e fundador, dos vínculos sociais.
A defesa da integridade individual não significa, no entanto, apenas a elevação da conservação da vida à condição última de legitimação do poder. “Integridade” significa aqui também a soma dos predicados que possuo e que determinam minha individualidade, os predicados dos quais sou proprietário.
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