Vinicius Torres Machado – A Máscara No Teatro Moderno: Do Avesso Da Tradição À Contemporaneidade
Este livro apresenta algumas das iniciativas para a retomada da máscara no teatro moderno.
No amplo quadro da primeira metade do século XX, o autor selecionou quatro principais artistas que abordaram esse objeto: Gordon Craig, Meyerhold, Jacques Copeau e Jacques Lecoq.
Nesses autores, a máscara não é apenas um elemento colocado em cena, mas também um princípio organizador da teatralidade que almejam.
A partir das reflexões desses autores, Vinícius Torres Machado analisa algumas características da máscara que podem ser reelaboradas no teatro contemporâneo.
A máscara é uma das mais antigas criações do ser humano. Ela se destaca no teatro de civilizações milenares, como a hindu e chinesa, e aparece nos ritos de povos e culturas ancestrais na África, Oceania e Américas.
Talvez por isso tenha se tornado um símbolo do próprio teatro, metonimicamente ocupando seu lugar e remetendo ao ato da representação dramática.
Isso se verifica sobretudo na tradição ocidental, que projeta o início do teatro na Grécia Antiga, pelo menos como a Europa o traduziu, sobretudo a partir da Renascença.
No teatro da pólis grega, a máscara é um adereço crucial para o desenvolvimento de narrativas trágicas e cômicas, vindo dessa funcionalidade a fixação posterior do par de máscaras contrárias, a do riso e a do choro, como ícone, hoje tão abusado, da atividade teatral.
No século XVI os artistas de uma tradição popular nunca encerrada, advinda da comédia romana, vão formular a commedia dell’arte, um sistema fortemente baseado no uso da máscara e dos tipos característicos que ela forjava.
Ainda ali, a máscara, apesar de quase onipresente, não era pensada em abstrato, não se a estudava como método ou tema de pesquisa, mas se a vivia, orgânica e funcional em sua eficácia técnica, dentro de um sistema narrativo fortemente baseado no improviso e lido naturalmente pelo público, homens e mulheres comuns que o apreendiam nas ruas e praças, antes que um edifício teatral especializado fosse erguido para conter as representações em espaços fechados.
Foi somente no fim do século XIX que os ventos da modernidade sacudiram essas tradições antigas e as transformaram em verdadeiro objeto de interesse, fato histórico a ser estudado e classificado.
Por distintas vias, o século XX historicizou a máscara, não sem também processá-la praticamente, absorvendo-a como elemento referencial da modernização teatral. De algum modo, o livro de Vinícius Torres Machado explora exatamente os caminhos que a modernidade trilhou no resgate da máscara – ou na sua historização.
Ator, dramaturgo e encenador dos mais talentosos de sua geração, ele teve um aprendizado intenso da tradição da commedia dell’arte antes de ir além dela, no desdobramento de seus elementos estruturais em novas possibilidades de aproveitamento da máscara ou, até mesmo, numa busca mais radical, menos preocupada com o objeto substantivo máscara e mais focada no próprio ato de mascarar confundido com o de encenar.
Em diálogo com quatro grandes artistas do teatro moderno que, por diferentes vias, operaram como arqueólogos de um legado histórico, intérpretes de vestígios remanescentes a reconstituir atualizações possíveis de fenômenos há muito transcorridos, Vinícius organizou um material antes disperso e gerou dele uma leitura importante.
Seu livro atende seja ao leitor comum, que nunca se ateve a pensar a questão da máscara e sua história, seja ao pesquisador informado sobre o tema, que busca desenvolver novas leituras e potencializações desse elemento tão central na cultura humana desde sempre.
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