Este livro é um exame da abordagem de Platão da relação entre um todo e suas partes. Ele é centrado na discussão de passagens relevantes de um grupo de obras tardias de Platão: (mais ou menos na ordem da minha discussão) Teeteto, Parmênides, Sofista, Filebo e Timeu. Por ‘tardias’ não quero dizer mais que posteriores à República, o que penso ser incontroverso, se algo é incontroverso sobre a cronologia platônica. Das obras que considerarei, há – ou houve – controvérsia considerável acerca da datação do Timeu no período pós-República1. Eu mesma acho mais natural agrupar o Timeu com o Filebo, em uma ou outra ordem, e julgo que ambos são posteriores ao Parmênides2. Porém, como não estou propondo uma explicação diacrônica das posições de Platão sobre a parte e o todo (sobre a qual, ver abaixo), nada do que eu digo depende de alguma cronologia particular dos trabalhos que discuto.
Embora essas de modo algum sejam as únicas obras de Platão em que haja discussão sobre parte e todo, são aquelas em que há teorização efetiva sobre a relação entre um todo e suas partes enquanto tal, ou sobre a composição em geral. O que quero dizer pode ser ilustrado, por contraste, considerando os seguintes exemplos. Em República IV, Sócrates sabidamente propõe que a alma humana é dividida em três partes distintas. Mas aí não há discussão alguma sobre o que está em jogo em uma coisa ser parte de outra, nem sobre a natureza da relação entre as partes e o todo. A passagem decerto propõe um princípio geral que fundamenta a conclusão de que a alma tem partes; o ‘princípio da oposição’, em 436b8-c1. Contudo, isso é, no máximo, uma condição suficiente, não necessária, para que algo tenha partes. Portanto, não pode ser usado para estabelecer teses gerais sobre partes. E ele nem é utilizado, na passagem em questão, com esse intuito.
Parte E Todo Em Platão: A Metafísica Da Estrutura
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